segunda-feira, 30 de março de 2009

Maurice Jarre (1924-2009)

O deserto. As dunas batidas a vento. A caminhada insondável do viajante no dorso de um camelo.

É incontornável que perante esta imagem não nos ocorra a música de Maurice Jarre para um dos grandes épicos da história do cinema, «Lawrence of Arábia» de David Lean.
O compositor francês, autor de mais de uma centena e meia de bandas sonoras para cinema, faleceu ontem.

sábado, 28 de março de 2009

Uma Teoria da Conspiração


À hora que escrevo estas linhas, a imprensa nacional anuncia, por via de um exclusivo TVI, que Charles Smith (sócio da consultora Smith & Pedro, contratada no âmbito do licenciamento do Freeport de Alcochete) surge num dvd, em posse da polícia britânica, a garantir que José Sócrates é corrupto e terá recebido dinheiro, por via de um primo, para dar luz verde ao projecto do “outlet” de Alcochete. Na TVI, é possível assistir ao som real do alegado dvd, acompanhado por imagens desfocadas a preto e branco que visam recriar a situação, ilustrando-a e dando-lhe o dramatismo merecido. Em suma, um mimo de produção do canal que se orgulha de representar o melhor que se faz na ficção portuguesa.
Já ontem, por esta mesma hora, a notícia de abertura dos blocos informativos da SIC e da RTP destacavam o artigo de opinião assinado por Marinho Pinto, onde o bastonário da Ordem dos Advogados desmonta todo o processo conspirativo que visa envolver José Sócrates no “caso Freeport”. No seu estilo, tantas vezes apontado como demagógico e desbragado, Marinho Pinto expõe o modo como se construiu um processo de investigação que nasce de uma carta supostamente anónima, e que hoje se sabe ter sido escrita por um ex-deputado do CDS-PP, e acabou por envolver uma tríade composta por agentes da Polícia Judiciária (um deles condenado por violação do segredo de justiça), um jornalista intimamente ligado ao PSD e um ex-chefe de gabinete do antecessor do actual primeiro-ministro em São Bento.
Perante dois cenários como os expostos, quase apetece lembrar aquele personagem de Graham Greene que dizia «No nosso século, a realidade não é coisa que se enfrente». Na verdade, perante a crise profunda dos difíceis tempos deste século (que já não é o de Greene), talvez valha mais romancear a realidade, dar-lhe uma certa excitação e discorrer a um ritmo telenovelistico, doseado em capítulos onde tudo parece avançar no sentido do desfecho para que logo o episódio seguinte o negue, numa espiral dialéctica que só o engenho da cultura televisiva é capaz de criar (qual devir histórico qual quê!).
Olhando para este “caso Freeport”, recuperado dos baús no ano de (quase) todas as eleições, apetece-nos claramente desligar mas, o mais emotivo de tudo isto é que começamos a sentir que nada do que se está a passar aqui é real, logo é esse picante da ficção que nos fixa aos próximos episódios e nos permite extrapolar. A mim, que tantas vezes me sinto com pouca vontade de enfrentar a realidade deste tempo insano prende-me esta história que envolve numa intriga internacional o primeiro-ministro do meu País (Sócrates), uns consultores mercenários (da Smith & Pedro), uma família pouco recomendável (a de Sócrates), uns fulanos da oposição a Sócrates (numa coligação não decretada CDS-PP/PPD-PSD), polícias (Judiciária), justiça (Ministério Público) e muita comunicação social sedenta de acção.
Ora, perante tamanho leque de ingredientes, comecemos uma teoria da conspiração que nada mais é que a minha, na óptica de espectador desta realidade que só se enfrenta porque nos parece absoluta ficção. Mas antes, de modo a evitar interpretações funestas ou maldosas, gostaria de expor, do ponto nevrálgico do meu apartidarismo, o que penso de José Sócrates, eventual grande protagonista deste seriado. Depois, sem escamotear que pode haver fogo de onde saí fumo, avançar com os sublinhados que fazem deste caso o cenário ideal para uma teoria da conspiração.
Produto da escola de um aparelho partidário, Sócrates tem uma qualidade inegável que reside na habilidade com que doseia algum carisma com um optimismo por vezes irresistível, mesmo perante o maior dos cataclismos. Este optimismo estratégico que o faz iludir as crises perante as maiores adversidades é a antítese do miserável “discurso da tanga” que o antecedeu, num pathos, emocional quanto baste, que transporta habilmente intermitentes estados de graça ao longo de quatro anos de governação. Mesmo perante manifestações de professores e de trabalhadores do público e do privado a sacudirem as ruas com quase tanto ímpeto quanto nos tempos do PREC, mesmo perante esta conjuntura económica internacional negativa, sem paralelo nas últimas largas dezenas de anos, a fazer disparar o desemprego, o actual primeiro-ministro vai resistindo.
Não obstante qualquer factor mais drástico, Sócrates e o seu PS mantêm todas as condições para ganhar as próximas legislativas, se bem que longe dos resultados de 2005. Há culpas na ineficácia da oposição é certo, mas há que reconhecer a habilidade política do actual primeiro-ministro, mesmo quando confrontado com ameaças internas que se perfilam no partido vindas de lideranças errantes, como as encabeçadas ora por Manuel Alegre (a fazer render o milhão de votos das presidenciais) ora por Mário Soares (eterna eminência parda que assombra de quando em vez a actuação governativa com aproximações à agenda da oposição). Independentemente de se encontrar escudado numa hábil máquina partidária (a que não pode ser estranha a actuação de uma velha raposa chamada Almeida Santos e o papel de guardião do aparelho partidário desempenhado por Santos Silva) e numa sólida maioria parlamentar ávida do seu estatuto, Sócrates faz valer-se do peso que detém enquanto principal rosto de uma geração de líderes provinda do "guterrismo" que, inevitavelmente, se afirma como a chave mestra para permitir ao aparelho socialista a manutenção do poder.
Em tudo o resto, José Sócrates é medíocre. E só não desce abaixo da mediocridade porque quase tudo o que o rodeia não é capaz de ser melhor que isso. O actual primeiro-ministro é nitidamente um produto destes tempos de descrédito dos agentes políticos, um resultado do nosso tão português «medo de existir», uma espécie de actor que encarna o papel com um guião suficientemente credível para as expectativas baixas do seu público. José Sócrates é uma interpretação mediana de alguém que, não sendo nem particularmente dotado nem talentoso, teve frequentes lapsos de engenho político nos momentos indicados, o que faz dele alguém que aproveitando a vaga vai sabendo evitar a espuma. Apesar de na vida real ter andado metido em situações um pouco dúbias, como uns projectos de engenharia duvidosos lá para a Beira Interior ou um sarilho de proporções mal decifradas denominado Universidade Independente, o maior risco que corre não parece ser, à partida, nem a crise nem este "caso Freeport". A ameaça velada aos seus objectivos vem dos ventos soprados por Belém, sobretudo se antes da data projectada para as legislativas trouxer tempestade. A hipótese é remota mas, não convirá descuidá-la perante uma conjuntura tão complexa que poderá envolver à gestão da crise um eventual problema de carácter.
Independentemente do que se possa pensar de menos positivo sobre o primeiro-ministro de Portugal, para lá das questões da política e das controvérsias que envolvem o passado de Sócrates, estou cada vez mais certo que há lobos bem mais ferozes que ele. E quer-me parecer que se movem como hienas perante uma carcaça que ainda estrebucha. Talvez isso justifique este caso do outlet com aquele estranho elenco de protagonistas que, se aliado ao timing das incidências públicas do caso, só podem ser lidas ou ao abrigo da tese da cabala ou como a mais infeliz das "coincidências" para um político com demasiados esqueletos no armário.
Porém, a favor de Sócrates joga um "caso Freeport"que caminha a passos largos para o descrédito, não pelo ruído que faz mas pelo facto de quando o faz. O eventual crime de corrupção vem a lume quando o secretário-geral do PS se prepara para enfrentar as eleições legislativas de 2005 e regressa agora, de novo, quando o primeiro-ministro se candidata a um segundo mandato. Agora, estes dois últimos desenvolvimentos não deixam de ser particularmente estranhos nos seus tempos de ocorrência: primeiro, o artigo do bastonário da Ordem dos Advogados que pela informação fundamentada que contém (e restringida ao processo e a processos anexos) se torna incontornável na exposição do caso perante a opinião pública; segundo, menos de 24 horas depois do artigo ser tornado público surge uma “conveniente” gravação visando secundarizar por completo o teor do artigo de Marinho Pinto, como se para um grande mal fosse imediatamente necessário um grande remédio.
O facto de ser aquela televisão a difundir o teor da gravação do suposto dvd com direito a uma dramatização encenada não pode parecer inocente ou ser confundido com furo jornalístico. De facto, a televisão de José Eduardo Moniz tem sido um dos meios de comunicação social mais hostis ao governo ao longo desta legislatura e não pode haver aqui confusão com tabloidização banalizada e muito menos com informação isenta. A exemplo, e a prová-lo, estão considerações constantes, laterais ao dever de informar, levadas a cabo em inúmeras emissões do principal telejornal da estação pelo seu mais influente pivot. Convém não esquecer que será de bom senso existirem fronteiras definidas entre informação e opinação, nem que seja em defesa do bom jornalismo.
O envolvimento na produção de factos passíveis de acção judicial por pessoas ligadas ao maior partido da oposição, e particularmente ao principal adversário político de Sócrates nas últimas eleições, só pode ser mesmo uma muito estranha e grave coincidência se quisermos ver todo o filme pelo prisma da realidade. Coisas destas não se passam num Estado de direito democrático! Mas, como aqui mandam as regras do seriado, nada como um ex-chefe de gabinete de alguém que até já foi primeiro-ministro, membros do maior partido opositor ao actual partido do governo e uns inspectores da Polícia Judiciária numa sala da casa de um jornalista com notória filiação partidária para termos emoção a rodos. Perante isto, porque não equacionar a tese de que há aqui uma conspiração sem deixar cair as dúvidas sobre o relacionamento de um primeiro-ministro nesta trapalhada toda?
Mas, estamos apenas a conjecturar uma mera teoria da conspiração sobre qualquer coisa que pode, ou não, ter acontecido. A estas hipotéticas leituras, quase tão fantasiosas quanto os factos que aqui se trataram, poderiamos ainda verificar as reacções ao artigo de Marinho Pinto por parte de alguns dos seus mais ilustres pares para, num ápice, perceber que o primeiro-ministro cooptou o bastonário da mais influente ordem profissional do País para a sua trincheira. Mas chega! Isso eram mais umas centenas de palavras e a realidade não pode ser mesmo coisa que se enfrente. Sobretudo aqui, em Portugal.
Nota final: Para quem queira congeminar a sua própria teoria da conspiração acerca do caso aqui ficam algumas fontes a consultar:

domingo, 22 de março de 2009

"Gran Torino" (ou o Epílogo do Último Grande Herói?)

Saber se este é ou não o último filme interpretado por um dos últimos grandes ícones do cinema americano talvez não seja particularmente importante. De facto, há sempre uma certa tendência para pensarmos que assim é quando a dada altura uma imagem icónica se revela de uma forma tão pungente através da sua própria desmontagem. No imediato, ocorre-me um dos melhores filmes de Woody Allen, «Deconstructing Harry» (1997), que parecia anunciar o afastamento definitivo de Allen do lado de cá da câmara, porém, essa abstinência durou apenas dois ou três anos. O certo é que o último filme de Clint Eastwood, «Gran Torino», soa a uma espécie de epílogo de carreira, desmontando e humanizando com uma brutal e comovedora simplicidade (marca também ela própria do cinema de Eastwood enquanto autor), uma imagem que está vincadamente associada às personagens que criaram o mito, tais como o “Dirty” Harry Callahan, o Sargento Thomas Highway de «Heartbreak Ridge», o William Munny de «Imperdoável» ou, nos primórdios da carreira, o “homem sem nome” dos notáveis western-spaghetti de Sergio Leone.

Será precisamente através do fragilizado pistoleiro William Munny, de «Imperdoável», que Eastwood anuncia este ciclo de decomposição da sua própria imagem enquanto actor, sendo que cada papel que virá a interpretar a partir daí (se exceptuarmos «As Pontes de Madison County») é a exorcização de si mesmo enquanto herói de acção, como se o espelho que reflecte o homem envelhecido contasse toda uma história de passado que afinal, no seu íntimo, não correspondia exactamente ao pistoleiro virulento e implacável, ao militar duro e xenófobo ou ao polícia rebelde e vingador. Nesta sequência da obra de Eastwood, o Walt Kowalsky de «Gran Torino», um veterano de guerra da Coreia e operário reformado da Ford, é a mais solitária e exposta das suas personagens rumo à desmontagem final do mito, até porque ela reúne todos os traços que marcaram as personagens mais famosas de Clint Eastwood, do «homem sem nome» a Harry Callahan, humanizando-a através das suas próprias dualidades e idiossincrasias ou expondo-a através da sua maior proximidade à morte do que à vida. E não será de estranhar se, na recta final do filme, ao vermos uma lágrima rolar pela face de Walt Kowalsky, acorrer-nos que aquele que pode ser o fantasma de Dirty Harry, afinal, também chora.

quinta-feira, 19 de março de 2009

Sailing to Byzantium

A propósito de um filme que me fez descobrir um livro, eis que pelo meio, tão apaixonado por um como por outro, descubro este magnifico poema de W. B. Yeats.
THAT is no country for old men. The young
In one another's arms, birds in the trees
- Those dying generations -
at their song,
The salmon-falls, the mackerel-crowded seas,
Fish, flesh, or fowl, commend all summer long
Whatever is begotten, born, and dies.
Caught in that sensual music all neglect
Monuments of unageing intellect.
An aged man is but a paltry thing,
A tattered coat upon a stick, unless
Soul clap its hands and sing, and louder sing
For every tatter in its mortal dress,
Nor is there singing school but studying
Monuments of its own magnificence;
And therefore I have sailed the seas and come
To the holy city of Byzantium.
O sages standing in God's holy fire
As in the gold mosaic of a wall,
Come from the holy fire, perne in a gyre,
And be the singing-masters of my soul.
Consume my heart away; sick with desire
And fastened to a dying animal
It knows not what it is; and gather me
Into the artifice of eternity.
Once out of nature I shall never take
My bodily form from any natural thing,
But such a form as Grecian goldsmiths make
Of hammered gold and gold enamelling
To keep a drowsy Emperor awake;
Or set upon a golden bough to sing
To lords and ladies of Byzantium
Of what is past, or passing, or to come

sexta-feira, 13 de março de 2009

Dia de Luta

Duzentos mil! Já não pode ser mais encarado como um mera questão de função pública. A luta e participação sindicais são uma manifestação de civismo em prol da democracia, da liberdade e da qualidade de vida de todos os cidadãos activos. Perante uma crise sem precedentes desde a última grande guerra, é essencial contribuir em busca de novas soluções, por uma maior redistribuição da riqueza e pela qualidade do emprego, obstaculizando as medidas erradas propostas e execuadas pelas constantes más opções de governação.
Uma manifestação como a que hoje foi patrocinada pela CGTP-IN é uma demonstração clara da vitalidade da democracia portuguesa que, não obstante os ataques silenciosos que tem sofrido ao longo das últimas décadas, parece manter intacta os valores superiores que fizeram o 25 de Abril. Por isso, e reeditando a nobre e popular tendência da resistência lusitana que derrotou castelhanos e Andeiros, em Portugal, as pessoas saiem à rua, manifestam-se e nunca se deixam vencer, por mais que o queiram fazer crer. Podiamos ser mais, é certo, os que encheram as avenidas principais da capital, mas há milhares que ausentes lutavam na sua empresa, no seu ciclo de vida e, enquanto homens e mulheres lutarmos, há direitos que se defendem e conquistam.
Em suma, são estas coisas que me fazem, apesar do tanto de ruim que se diz sobre os portugueses, sentir orgulho neste Portugal, seja branco, mestiço, preto, amarelo ou vermelho! Porque, perante tantos anos de negligente desgoverno e má política mascarada, as pessoas ainda se mobilizam, saiem à rua e lutam, por mais que os ventos desta modernidade ora vendida ora oferecida ditem o contrário. Porque é pela liberdade, independentemente de tudo o que se passou num passado contra-producente de ditadura, que se norteia a vontade de cada português que não se rende. E, na rua, livre, faz soar o seu protesto!

quinta-feira, 12 de março de 2009

Elefante


Quase uma década após Columbine, um adolescente de 17 anos reedita o furacão assassino do horror niilista e absurdo nos arredores de Estugarda. Entre Columbine e Winnenden, Estugarda, o mundo tem sido pontualmente abalado por um fenómeno que entre os EUA e a Europa vai ocorrendo com uma frequência incompreensivelmente crescente.
Perante esta espécie de absoluta falência humana das nossas sociedades para compreender o que não é racionalmente passível de entender, vejo-me numa espiral de informações difusas que se acercam das televisões e das manifestações de violência omnipresente, dos jogos de computador com toda a sua saga de barbárie gratuita e da facilidade com que um indivíduo absolutamente normal se torna numa máquina de morte sem que nada pareça indicar. Tanto, ou tão pouco, para ter resposta.
Caso para questionar, enquanto pai e cidadão, mas sem recurso apressado a julgamentos populares, o que se está a passar connosco enquanto pais, familiares, colegas ou professores? Que mundo é este em que se criam criaturas capazes de um massacre que retira a vida a dezasseis pessoas sem que consigamos sequer ter uma pista no passado sobre tão sangrento futuro? Ou é tudo mtv, playstation ou manga, incluindo nós mesmos?
Face a uma realidade que parece inconcebível, lembro o filme de Van Sant e aquela escola americana baseada em Columbine. Ontem, essa escola era em Winnenden. Antes tinha sido em Erfurt, em Kauhajoki, em Jokela ou no Virginia Tech. Tudo para recordar a parábola do elefante (que deu nome ao filme) onde um grupo de cegos examina as várias partes do animal conseguindo cada um deles descrever aquilo que lhe toca; porém, nenhum consegue ter a percepção do todo. Nenhum!

segunda-feira, 9 de março de 2009

A bordo do Air Force One

Barak Obama é, de facto, um político de habilidade notável. No passado fim de semana, o actual presidente americano prestou, numa entrevista ao The New York Times, uma lição de como administrar nas doses certas índices de realismo político sem travar a euforia que, cem dias depois da eleição, ainda sustentam a sua imagem num cenário de crise profunda e de dimensões ainda incalculáveis. Mesmo quando confrontado com o epíteto de "socialista"!

Na entrevista de cerca de meia hora dada a bordo do Air Force One, reconheceu que a coligação ocidental não está a ganhar a guerra no Afeganistão, abriu caminho a uma solução negociada com talibãs moderados (recuperando assim a táctica usada no Iraque com algumas milícias sunitas) e não deixou cair bandeiras de campanha como a reforma do sistema de saúde norte americano com vista à universalização.
Pelo meio, falou de crise para justificar as medidas que eventualmente alguns encaram como “socialistas”, sem nunca se ter enquadrado ideologicamente. Talvez por essa incerteza ideológica, sentiu necessidade de uma adenda, prestada num contacto final com o jornal, não vá o código genético da América antiestatista, individualista e populista degenerar.

sábado, 7 de março de 2009

Working on a Dream

Por vezes faz falta uma grande canção de intervenção, daquelas que sacodem enquanto a trauteamos. Nestes dias tão incertos, em que as esperanças se diluem num cenário de acontecimentos que pareciamos nunca ter equacionado para as nossas vidas, surge uma grande canção de esperança como a que dá título ao novo album de Bruce Springsteen. É natural que lá esteja muito do "efeito" Obama, mas para quem acredita que é possível, estas palavras soam como um hino...
Out here the nights are long,
the days are lonely
I think of you and
I'm working on a dream
I'm working on a dream
Now the cards
I've drawn's a rough hand, darling
I straighten the back and
I'm working on a dream
I'm working on a dream
Come on!
I'm working on a dream

Though sometimes it feels so far away
I'm working on a dream
And I know it will be mine someday
Rain pourin' down, I swing my hammer
My hands are rough from working on a dream
I'm working on a dream
Let's go!
I'm working on a dream
Though trouble can feel like it's here to stay
I'm working on a dream
Well our love will chase trouble away
Alright!
I'm working on a dream
Though it can feel so far away
I'm working on a dream
Our love will make it real someday
The sun rise up,
I climb the ladder
The new day breaks and
I'm working on a dream
I'm working on a dream
I'm working on a dream
Hey!
I'm working on a dream
Though it can feel so far away
I'm working on a dream
Our love will make it real someday
I'm working on a dream
Though it can feel so far away
I'm working on a dream
And our love will make it real someday
Em grande forma, The Boss, o grande working class hero destes tempos!

quinta-feira, 5 de março de 2009

O Fim e o Princípio (I)

«Os jornais em papel vão acabar?» - questiona a correspondente do Público em Washington na edição de hoje do diário. Na peça, constata-se a tendência actual na imprensa escrita que, dos Estados Unidos para o resto do mundo, se acentua numa diminuição de títulos e num encolher desmesurado das redacções. Acompanhando este fim anunciado, os jornais perdem em número de páginas e em secções e edições avulsas, prejudicando manifestamente o tratamento dos temas e a qualidade do jornalismo.
Na base deste diagnóstico constatável a qualquer cidadão medianamente informado, articulam-se tendências claras de consumo de informação que encontram na internet o princípio da continuidade do jornalismo. Porém, o jornalismo enquanto conceito de informação fragmentou-se para lá do jornalista (o agente difusor da informação) por via da interactividade e actuação sobre a notícia permitida por blogues, fóruns, sítio de internet ou comentários, ou seja, pelo apogeu da liberdade de expressão que a internet nos parece ter garantido como um fenómeno quase irreversível.
Mas se por um lado nunca se produziu tanta informação, e provavelmente nunca nos sentimos tão livres para comunicar, por outro, a realidade demonstra-se aos nossos olhos como uma amálgama de meias verdades, distorções ou mesmo mentiras. A naturalidade do imediatismo com que somos assimilados através do fluxo quase constante de informação leva-nos a não exigir um conceito mais profundo de busca pela verdade, isto é, de busca pela informação. E, em parte, o anunciado fim do jornal clássico, em papel que mancha as mãos de tinta, parece anunciar o princípio de uma nova era que pode corresponder a ameaças concretas à própria liberdade dos cidadãos e à qualidade e ao aprofundamento do ideal da democracia.

domingo, 1 de março de 2009

Volver

Esta casa precisa de obras, de se refrescar, de entrar nos mapas das hipóteses quotidianas, como se fosse feita de pulsar constante e não do bater incerto do momento.

No fundo, está em nome próprio. Acidental ou não... o Próprio!

E agora estas palavras. Para mim próprio. Convencendo-me do quê? De que faço como o Gelman (ó poeta das pambas que fazes respirar o tango) e grito

yo que escribo palabras para volver.

Será?