quarta-feira, 26 de março de 2008

Assim são os Blogues


A minha experiência com blogues vem de há uns bons três ou quatro anos. Entre a vontade de discorrer sobre muito ou mesmo nada, os blogues chegaram a tornar-se a minha pequenina e anónima obsessão. Depois, e como tudo na vida, tornaram-se uma espécie de mono a lembrar aquele sofá velho e usado que temos na sala à espera do dia em que o possamos substituir. E quando esse dia chega, lá o largamos à poeira do sótão porque, sabe-se lá por obra e graça do quê, algo nos diz que talvez ainda lhe possamos dar alguma utilidade.

Assim são os blogues. Algures vagueiam, assinados no anonimato de pseudónimos, heterónimos ou alcunhas, pairando por esse mundo ilimitado da internet, caídos no esquecimento do autor ou dos outrora regulares visitantes que alimentaram aquele narcísico contador de visitas que nos vai fazendo ganhar a ilusão de nos sentirmos populares.

Hoje, voltar à estação dos blogues é uma espécie de dejá-vu. De antemão, algo me diz que vou estar tentado, durante o fulgor inicial, a actualizações periódicas e ao alegre sacrifício de alguns minutos do dia a um espaço remoto como este. Depois, com o passar do tempo e perante outras prioridades ou vontades, aquilo que é hoje um bebé acarinhado e devotado torna-se de novo um mono. E assim se anuncia o esquecimento. E mais uma vez, se lança ao abandono o velho e usado sofá onde outrora se fez sala.
imagem: Benefits Supervisor Sleeping de Lucien Freud

terça-feira, 18 de março de 2008

Outono em Barcelona

De braço dado no Eixample, pelo Passeio de Grácia, da Pedrera à Casa Batlló. Sopra o vento frio que desce dos Pirinéus. Descemos devagar, na calma do estio pretérito, sentido a cidade pulsar. Queremos lavar os olhos no Mediterrâneo que acabou de ver Ulisses passar. La Rambla é uma festa! Há gentes de um mundo inteiro que faz acontecer vida em cada passo cadente que damos. Atiramos uma moeda ao homem estátua... Petrificado! Do Lyceu libertam-se vozes de anjos que é impossível ouvir perante a multidão entregue ao buliço. Um chocolate quente e churros no café da ópera aconchega o coração. Está frio, mas transpiramos a satisfação. Tudo pulsa: o Miró no chão, a velha fábrica de sombrinhas, os quiosques de bugigangas, as esplanadas cercadas... lá está a estátua de Cólom. Este é real, não é gente! Aponta para o mar. Aqui, do Porto Velho, de onde se deseja ancorar para depois subir, lenta e levemente, nesta tarde de Outono em Barcelona.

sábado, 15 de março de 2008

Recorda-me



Como a minha filha de cinco anos se deixa encantar pelos lugares onde passa, devo a ela já algumas memórias que o tempo que corre não me vai deixando lembrar com a frequência que deveria para me sentir, digamos, equilibrado.

Foi no verão passado, que ela registou estas imagens. A serra profunda, retratos de um lugarejo no norte da Austria, em pleno coração dos Alpes. Era manhã, recordo-o agora, e das janelas do quarto, a criança disparou a sua pequena máquina fotográfica para nos fazer lembrar à posteridade que a vida é bela quando se acredita que se está numa terra de conto de fadas.