quinta-feira, 12 de agosto de 2010

Um editorial sobre cinema

Foi preciso vir o meio de Agosto, e andar às voltas com a oferta cultural da cidade - que não sendo parca, é curta em novidades -, para decidir fazer, na próxima edição da Lisboa Cultural, um destaque ao cinema que se vai exibindo, por essa cidade fora, ao ar livre. Não tendo por hábito aqui publicar o que produzo no meu trabalho, decidi abrir a excepção. Porque é de cinema que se trata, transcrevo o Editorial da próxima edição (que só estará disponível na segunda-feira que vem).
Talvez, porque tenha sido, até agora, o Editorial que mais prazer me deu escrever, apesar de, semana após semana, lamentar não ter mais 250 palavras para lhes dar outra cor. Tiranias...

O cinema ao ar livre voltou a estar na moda. A tradição de projectar filmes ao ar livre em noites quentes de Verão parece ser, cada vez mais, um formato de sucesso, como demonstramos nesta edição da Lisboa Cultural. Escolhemos apenas três pólos de exibição de cinema que prometem animar o que resta de Agosto, e no caso das segundas feiras no Largo da Achada e dos fins de semana de Fitas na Rua, as noites de cinefilia ao relento prolongar-se-ão até Setembro.
Longe da lógica dos
blockbusters e das escolhas mais evidentes, as programações que destacamos apostam, sobretudo, no cinema de autor, convidando o público a reencontrar filmes que há uns anos atrás até seria possível ver, ou rever, em sala, nas muito aguardadas reposições de Verão. Hoje, perante o fenómeno do home cinema e da lógica cada vez mais perversa da rede de exibição comercial na qual programadores deram lugar a distribuidores, não há praticamente qualquer hipótese de reencontrar um clássico do cinema fora da sala da Cinemateca. O que é, no mínimo, lamentável.
Por tudo isto, os ciclos de cinema ao ar livre que lhe propomos recuperam também esse saudável reencontro com a memória do cinema. No Largo da Achada, passam as primeiras obras de grandes realizadores, incluindo as de cineastas portugueses como Fernando Lopes e Pedro Costa. Na itinerância do Fitas, podemos reencontrar um dos melhores filmes de David Lynch (Mulholland Drive) ou aproveitar, lá mais para a frente, para rever um clássico absoluto de Sergio Leone (O Bom, o Mau e o Vilão) ou o saudoso Belle de Jour, de Buñuel, que alguns da geração de 90 terão descoberto numa célebre reposição de Verão em cópia nova.
Em suma, desejamos-lhe bom cinema para o que resta deste Verão.

Em jeito de nota de rodapé, e ainda no âmbito da cinefilia, relembro que O Feiticeiro de Oz está de parabéns. E garanto que, 71 anos depois da estreia, continua a encantar... a minha filha mais nova já é fã e até sonha ter uns sapatos mágicos vermelhos como os da Dorothy.