sábado, 4 de fevereiro de 2012

Destruir vs. Construir

Na visita que fez hoje aos Estaleiros Navais de Viana do Castelo, Jerónimo de Sousa teve o condão de colocar o dedo na ferida com a simplicidade (dir-se-ia dos justos) que caracteriza o líder do PCP. Perante os trabalhadores acossados pelas idiossincrasias do sistema capitalista neoliberal que acossa os trabalhadores portugueses, perguntou muito logicamente o seguinte: porque é que o Governo que põe à disposição da Banca todos aqueles milhões que são do domínio público não é capaz de operacionalizar um equipamento nevrálgico para a produção nacional com 2 ou 3 milhões de euros?

Jerónimo de Sousa, tal como largos milhares de portugueses, sabem que a resposta é simples: a denominada troika FMI/BCP/UE está cá para destruir o que resta do país. E tem no Governo de Passos Coelho o instrumento ideal para o conseguir. Por sinal, este Governo (ainda assim eleito pelos portugueses, coisa que já se percebeu começar a rarear pela Europa acossada – será preciso lembrar a legitimidade democrática dos governos grego e italiano?) vai imitando em circunstâncias bem mais gravosas o “cavaquismo” de má memória. O papel do “bom aluno” da integração europeia que entre finais da década de 80 e anos 90 ia distribuindo dinheiro em troca da chacina da produção nacional, encontra agora uma fórmula bem mais selvagem e devastadora.

Perante a mais-valia daquilo que deveria ser um desígnio nacional, ou seja, a reindustrialização, as gentes perigosas que nos (des)governam impõem sacrifícios sangrando os meios de produção que nos restam. Quase que lembram a política de terra queimada que trouxe a fome a milhares de trabalhadores portugueses nos anos de 80, quando o governo de Cavaco Silva agiu determinantemente no sentido de destruir a “cintura vermelha” da margem sul, liquidando as grandes indústrias de Almada, Barreiro e Setúbal.

Agora, casos como o dos estaleiros de Viana do Castelo multiplicam-se de norte a sul com o que ainda subsiste do mundo operário em Portugal. O resultado é o desemprego, o agudizar das desigualdades e o empobrecimento de vastos sectores da população que são empurrados para um esquema de desvalorização do trabalho e/ou desemprego. E, como é evidente, destruir o que ainda subsiste de um sentimento de classe determinante nas lutas contra as brutalidades do capitalismo.

Entretanto, e perante os jogos perigosos da especulação financeira a que a banca portuguesa não passou (evidentemente) imune, os dinheiros da “ajuda externa” e dos contribuintes prepara-se para ser desbaratado na recapitalização dessa mesma banca. Ao apresentarem resultados negativos (pela primeira vez, esclareça-se) os grandes bancos portugueses preparam-se para deitarem mão aos tais 12 mil milhões de euros que a rapaziada do FMI e do BCE colocou à disposição. Mas 2 ou 3 milhões de euros para investimento nuns estaleiros modelo a nível europeu não existem.

Voltando ao exemplo dramático dos Estaleiros Navais de Viana do Castelo, é aqui claro quais as reais intenções deste Governo. Não se trata somente de destruir o Estado social, o valor do trabalho e o que ainda soçobra da Constituição da República Portuguesa que plasmava os valores de Abril. Esta gente quer ir ainda mais além e, impunemente, daqui a algum tempo, quando abandonarem o poder e derem lugar a um outro qualquer governo fantoche, estarão ao fresco, deixando o país arruinado e irreversivelmente isolado em dívidas, sem capacidade para decidir um rumo.

Enquanto o tempo passa, vão papagueando as inevitabilidades e acusando os portugueses mais pobres e os remediados de viverem acima das suas possibilidades. Gente que, aos olhos das Merkeles deste mundo e dos seus comparsas domésticos, nunca deveriam ter deixado os grilhões das galés e o chicote do dono, como ralé preguiçosa que é.