sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

Mark Rothko


A propósito de um trabalho sobre Vermelho, em cena no Teatro Aberto, um perfil sobre Mark Rothko, um dos grandes pintores americanos do século XX.
Poucos artistas teorizaram tanto sobre arte e, mais concretamente, sobre a sua própria criação artística quanto Mark Rothko. Para a dramaturgista Vera San Payo de Lemos, a grande virtude de Vermelho, de John Logan, foi “tratar com muito rigor o legado intelectual de Rothko, registado em inúmeros ensaios, palestras e correspondência.” Apesar de se tratar de uma ficção histórica, “o texto altera pouco os dados históricos e manifesta um conhecimento aprofundado do pensamento de Rothko.”

Nascido em 1903, em Dvinsk, na Rússia, Marcus Rothkowitz, nome de baptismo de Rothko, é o quarto filho de um farmacêutico judaico que emigra em 1910 para os Estados Unidos da América. Em 1913, a família junta-se a ele e estabelecem-se em Portland, Oregon. Ao longo do seu percurso escolar, Rothko demonstra grande interesse pelo estudo da arte, do teatro e dos clássicos, garantindo uma bolsa de estudos que o leva a ingressar na Yale University, onde estuda com Max Weber. Acabará por abandonar Yale, em 1923, sem ter concluído o curso.

A paixão pelo teatro levam-no a Nova Iorque onde tenta ingressar, embora sem sucesso, no American Laboratory Theater. Acaba por matricular-se na New School of Design e, entre 1925 e 1928, trabalha como ilustrador gráfico. Expõe pela primeira vez em 1928, ao lado de Milton Avery, que se tornará seu mestre e amigo. Em 1933, Rothko tem a sua primeira exposição individual em Nova Iorque, na Contemporary Art Gallery.

Em 1935, ao lado de Adolf Gottlieb funda o grupo The Ten que se baseia nos princípios da pintura realista, na exploração do expressionismo e da pintura abstrata, opondo-se ao conservadorismo dos círculos artísticos da época. Dez anos depois, Rothko é um pintor aclamado e expõe nas mais conceituadas galerias de Nova Iorque. Em 1952, surge ao lado de Clyfford Still e Jackson Pollock na exposição Fifteen Americans, no MoMA. Em 1958, e após alguns colegas o acusarem de “desejar obter um êxito burguês” subvertendo a sua obra, Rothko aceita uma encomenda milionária de murais para o luxuoso restaurante Four Seasons. Mais tarde, abandona o projecto e devolve a totalidade da verba recebida.

Em 1961, o MoMA acolhe a primeira retrospectiva da sua obra. No ano seguinte, rescinde o contrato com a Sidney Janis Gallery em protesto contra o apoio dado por esta à pop-art. Em 1968, sofre um aneurisma e os médicos proíbem-no de pintar telas com mais de um metro de altura. Um ano depois, doa à Tate Gallery de Londres nove dos murais criados para o Four Seasons, com a premissa de que lhes seja dedicada uma sala em que possam figurar em conjunto. Suicida-se, no seu estúdio, a 25 de Fevereiro de 1970, dia em que os murais chegaram a Londres.

sábado, 26 de novembro de 2011

Duas ou três coisas sobre ela

DA DEMOCRACIA. Não surpreende. Nada surpreende. Mesmo nada, quando alguém diz que uma greve é um direito inalienável dos cidadãos em democracia. E, depois, vêm outros e apuseram, apuseram sem parar a mesma ideia como bons democratas numa bendita democracia. Um direito inalienável dos cidadãos que, esperem que ainda falam os democratas, tem o condão de lixar a vida a quem quer trabalhar, apesar de a greve ser um direito inalienável dos cidadãos em democracia. Isso, senhores, isso de não deixar trabalhar quem quer é imperdoável! Quem se julgam os grevistas para exercer a ditadura sobre os que vão trabalhar? Raios partam os motoristas dos autocarros, os maquinistas dos comboios ou os controladores aéreos que não deviam usufruir desse direito de fazer greve ao mesmo tempo. E repetem os democratas, e os que querem ir trabalhar? E, eu grevista, devia sentir-me culpado, mas não sinto.
DO COLECTIVO. Ganha-se muito bem em Portugal, sobretudo na função pública, poderia ser a frase que ninguém ousou dizer enquanto se percebiam os números da greve a crescer. Porém, ficou no ar a táctica do implícito, essas entrelinhas, virtude retórica de muitos reputados democratas que vão à rádio e à tv analisar a greve. Porque, voltemos ao implícito, fazer uma greve custa dinheiro a quem a faz. Que porra, é um dia de ordenado e estamos todos mais para o lado do falido que outra coisa. Mas, o que importa é dar três vivas enérgicas a quem, contra tudo e contra todos, vai trabalhar em dia de greve. Os que a fazem que a paguem e, se o que foi trabalhar alguma coisa satisfizer com o caderno de encargos dos grevistas, melhor. Quem manda esses grevistas serem ursos? Não têm outro nome, os grevistas, ursos que sacrificam um dia de salário quando, afinal, já estamos todos irremediavelmente fodidos. Para quê fazer greve, é preciso trabalhar, duas vezes trabalhar, como mandam os gajos que nos fodem. Essa coisa da luta colectiva e da solidariedade entre trabalhadores é tudo balelas do passado. Só não convém esquecer é que se houver folga na foda, os que trabalharam também mamam como os outros mamíferos que são ursos. Mas, não foi sempre assim?, pergunto, eu grevista.
DA JUSTIÇA. Dói no bolso de quem faz greve. E no bolso do País? Os bandidos não são os tipos que proporcionaram o estado a que chegámos e, consequentemente, a greve. Bandidos são esses milhões de grevistas. E os gajos que se vão manifestar e cortam o trânsito. Se ficarmos gregos como estamos ainda vem para aí outra greve, e outra, e mais outra. Se não fossem as greves a Grécia não estaria falida e vergada como está. Que raio, direito e democracia sim, mas deixar os sindicatos levarem o País à falência não. Até porque isso do poder a andar pela rua só leva à desgraça. É preciso trabalhar para ser produtivo. Salários dignos? Qual quê. É preciso ajustarmos, ajustarmos por um Portugal ajustado aos novos tempos. Com tanto ajuste, ninguem nos agarra! E agora mais uma: honrar compromissos com credores. E outra: vergar, se preciso, os sindicatos. Tudo em nome do interesse nacional. Censuras? Referendos? Somos todos democratas, caramba. A greve sim, mas pequenina, de modo a que se consiga ir trabalhar e não se dê por ela. Até porque Portugal não pode andar a pagar greves. Malhem nos grevistas e deixem-nos trabalhar, pareceu-me ouvir lá dos lados de São Bento. Cá está, o democrata que o disse foi ouvido e avança a polícia para “malhar” nos manifestantes num directo para a tv. Mergulho no silêncio, eu grevista.

quinta-feira, 27 de outubro de 2011

Sangue do Meu Sangue | entrevista João Canijo

A 18 de Outubro, após a apresentação de Sangue do Meu Sangue no Festival de Busan, na Coreia do Sul, consegui, por fim, falar com João Canijo a propósito do seu filme. Fora uma entrevista adiada pela ida do realizador a paragens tão longinquas, mas também por não querer "massacrar" alguem que estaria a padecer de jet leg nos dias seguintes ao regresso. Assim, lá nos encontrámos na Casa da Imprensa, hoje sede da produtora Midas Filmes. Muito daquilo que falámos ficou de fora, nomeadamente uma nova relação de incesto no cinema de Canijo desta vez por "culpa" da Rita Blanco ou a experiência de suburbio francês vivida pelo realizador e pelo seu director de fotografia aquando dos trabalhos preparatórios de Ganhar a Vida. Outras tiveram que ser suavizadas porque, aquilo que mais agrada numa conversa com o João Canijo, é ele não se coibir nunca de chamar "os bois pelos nomes" (já tinha percebido isso na primeira ocasião em que o entrevistei mas agora, pela informalidade da conversa, isso foi mais perceptível). A entrevista foi publicada na edição desta semana da newsletter Lisboa Cultural. As (excelentes)fotos são do Francisco Levita.

A REALIDADE NÃO É UM PAÍS ESTRANHO
Aclamado pelo público e pela crítica, Sangue do Meu Sangue continua a ser um sucesso nas salas de cinemas nacionais e a ser celebrado nalguns dos mais destacados festivais internacionais de cinema. A mais recente obra de João Canijo é um exercício sublime de realismo, cru e visceral, onde o meio nunca se dissocia da tragédia que assombra a vida sofrida de três mulheres capazes, no limite, de tudo por amor. Após a apresentação do filme na Coreia do Sul, o realizador concedeu uma entrevista exclusiva à Lisboa Cultural onde fala do flagelo dos bairros periféricos, do agora denominado “método Canijo” e das mulheres.

Depois de tanto desamor em Noite Escura e Mal Nascida, eis Sangue do Meu Sangue, um filme sobre amor incondicional. Como é que aconteceu esta viragem?
Exactamente porque ambos, mas sobretudo o meu último filme de ficção [Mal Nascida (2007)], era sobre a falta de amor. Logicamente, quis agora fazer um filme sobre o amor que não é questionado. Esse era o ponto de partida. Depois, esse amor teria de ser vivido num bairro social, da periferia da cidade. À maneira dos americanos, diria que é a história de uma mãe que arrisca perder uma filha para a salvar e de uma tia que se perde para salvar o sobrinho.

E porquê o bairro social?
Quis situar a acção num sítio onde as pessoas têm de lutar muito pela sobrevivência, onde não têm tempo para elaborar e racionalizar pensamentos sobre os sentimentos. Limitam-se a vivê-los e a tê-los à flor da pela, de uma maneira muito orgânica. E, era isso que me interessava, não aquele tipo de sentimentos disfarçados ou ocultos por camadas de pensamento muito elaborado.

E é assim que mergulha no Bairro Padre Cruz…
Aconteceu após muitas viagens no eixo Amadora-Sintra, onde descobri não existirem bairros sociais antigos, já que datam todos do final do século passado. No Bairro Padre Cruz encontrei uma malha urbana muito especial e descobri uma casa, não um apartamento, que tivesse sido habitada por duas ou três gerações. Isso era essencial para transmitir a ideia da família que está muito enraizada naquele meio.

O Bairro Padre Cruz surpreendeu-o?
Apesar de ter uma certa ideia do bairro, sim porque pensava ser um aglomerado de prédios de apartamentos e descobri algo completamente diferente. Naquele que é o maior bairro social da Europa, há uma parte antiga, mais pequena, que foi a sua génese. O Bairro Padre Cruz foi construído para alojar os cantoneiros da Câmara Municipal de Lisboa e foi pensado como uma aldeia, com casinhas baixas e com uma particularidade que em nenhum bairro social do salazarismo existe: as ruas pedonais. O que é surpreendente, e tem graça, é que essas ruas têm escadas, são empedradas, sem trânsito e funcionam como pátios comuns…

O ambiente perfeito para o filme…
Sabe que muitas vezes as coisas próximas são aquilo que não vimos, e que apenas se descobrem por acaso, ou não tanto por acaso. A minha antiga mulher-a-dias, a Sra. D. Felicidade, que trabalhou para mim durante 16 anos e que faz parte da família, vive lá, precisamente na mesma casa que a actual. Acabou por ser a filha dela a servir-me de guia no bairro, permitindo-me, durante três meses, fazer entrevistas junto da população e conhecer aquele meio.

Como descobre aquela casa?
Aquela zona do bairro era para ser demolida (agora, devido à crise, já não vai ser). Cerca de metade daquelas casinhas estavam devolutas, portanto foi fácil ter uma casa vazia que pudéssemos remodelar e adaptar ao filme. As pessoas do bairro também nos ajudaram e a casa que escolhemos foi, por sinal, uma das primeiras que visitámos.

O João estuda profundamente o meio onde se passam os seus filmes. Viveu dois anos num bairro social dos arredores de Paris aquando de Ganhar a Vida e percorreu centenas de bares de alterne para fazer Noite Escura. É ai, no contacto directo com a realidade, que começa o “método Canijo”?
Penso que não se pode abordar um assunto que se passa num determinado meio sem o conhecer profundamente. Dou um exemplo: o Guillerme Arriaga, argumentista do [Alejandro G.] Iñarritu, quando ganhou um prémio em Cannes, foi questionado sobre o tempo que demorava a escrever um argumento; respondeu “agora que já tenho mais prática, demoro dois anos e meio”. Isto sucede porque faz exactamente a mesma pesquisa. Eu não posso falar sobre um bairro social sem conhecê-lo.

E como aplica o “método” aos actores?
Desta vez fui mais radical e fiz exactamente como queria [risos]. O argumento foi escrito com os actores desde o início. O tema era o amor incondicional num bairro social, havia uma mãe e uma filha, definiu-se que a mãe era mãe solteira e havia uma irmã e outro filho. Depois seguiu-se a construção das personagens, com os actores a definirem profundamente quem eram e a irem trabalhar nas profissões que escolheram para as suas personagens: a Rita Blanco foi trabalhar para um restaurante; a Anabela Moreira trabalhou num cabeleireiro do Centro Comercial Babilónia, na Amadora; a Cleia Almeida e a Teresa Tavares estiveram num supermercado… Depois, fomos definindo as relações entre as personagens e as situações que poderiam acontecer…

Foi, portanto, um work in progress?
Completamente. Que acabou testado durante um mês de improvisações, já com as cenas escritas, respeitando os movimentos emocionais dessas mesmas cenas, sendo dai que saiu o guião definitivo.
Deixe-me só voltar aos actores e ao desenvolvimento das personagens nas suas profissões… Até que ponto é que essa experiência dá realismo e consistência às interpretações?
Ao contrário do que o senso comum pensa, adaptar uma personagem a um meio não é imitar figuras desse mesmo meio. O processo passa por permitir que o meio entre dentro do actor por contágio. Um exemplo simples: eu sou do Porto e já não tenho grande sotaque; se estiver lá uns dias, o sotaque e o modo de construir as frases voltam naturalmente. E, repare, não estou a imitar ninguém. Acontece, naturalmente, por contágio.
Todo este processo garante uma autenticidade perturbadora às personagens de Sangue do Meu Sangue e, curiosamente, a personagem do Nuno Lopes – o dealer – surge no filme como um pai extremoso, nada fazendo antever o “monstro” que é.
Toda a autenticidade parte do trabalho e da entrega dos actores e, tal qual como na vida real, as pessoas são assim. Lembro que há uns bons anos atrás, num restaurante no Algarve, na mesa ao lado da minha, estava um edil que agora anda com problemas com a justiça a jantar com a família; não imagina como ele era um avô babadíssimo com os netos… [risos]

O filme sublinha o fascínio, por um lado, e o desconhecimento, por outro, dos mundos co-existentes na sociedade portuguesa. Refiro-me, por exemplo, à justificação que a Márcia (Rita Blanco) encontra para o caso da filha com um homem casado e bem-sucedido e o desconhecimento revelado por Maria da Luz (Beatriz Batarda), a senhora da alta-sociedade, em relação à existência de uma realidade que ela não conhece ou não quer ver.
Como em todos os meus filmes desde Sapatos Pretos quero que o espectador veja uma parte do Portugal que as pessoas sabem que existe mas não conhecem. O meu cinema é político nesse sentido, porque tenho a convicção que é muito difícil pôr o português a olhar para si próprio. Lisboa, por exemplo, não é, de modo algum, aquilo que aparece nos bilhetes-postais. Eu próprio fiquei surpreendido quando descobri que o melhor do subúrbio é o bairro social – a construção selvagem, sem espaço e sem convivialidade, é muito pior. Infelizmente, os lisboetas de hoje são maioritariamente pessoas que habitam os subúrbios. E essa fórmula de eixo Amadora-Sintra já se espalhou por todo o país… vou, precisamente, fazer um documentário sobre isso.

É um director de actrizes?
Não me considero um director. Descobri há muito tempo que não se dirigem actores, trabalha-se com eles. Mas, claro que prefiro trabalhar com actrizes porque gosto dessa capacidade de entrega e de disponibilidade que é biologicamente inerente à mulher.

sábado, 22 de outubro de 2011

Números para a desinformação

Soube-se há dias, pela imprensa, que o Banco de Portugal, essa instituição de credibilidade imaculada, concluiu que os funcionários públicos ganham 15% a mais que os trabalhadores do privado. O estudo, incólume e com toda a certeza rigoroso no uso do método cientifico, aponta o interessante número de 1.491 euros como média de ordenado no Estado e, como o horário de trabalho no público é mais reduzido que no privado, o valor hora vale, em média, 10,50 euros contra apenas 5,50 no privado.

A estes dados soma-se uma conclusão (natural): os quadros técnicos superiores ganham mais no privado que no público; o inverso sucede quando se tratam de trabalhadores menos qualificados. Segundo a imprensa, nada mais a assinalar! Nem sequer uma explicação acerca da forma como se chegou a estes valores. Apenas o olhar sobre os resultados de um estudo que aparece menos de uma semana depois de Passos Coelho ter atacado violentamente os funcionários públicos e os pensionistas, e ter usado, precisamente, estes argumentos para legitimar o corte nos subsídios de férias e natal (até porque já toda a gente esqueceu as horas extraordinárias que vão passar a valer metade no Estado).

Como já alguém disse, as médias são sempre muito perniciosas. Neste tipo de estudo é essencial questionar qual foi o universo-alvo. Terão sido apenas os funcionários públicos (e da administração local) ou estarão incluídos os trabalhadores das empresas públicas, institutos públicos, fundações ou outras entidades que têm regras de gestão autonomizada, muitas delas na esfera do direito privado? Repare-se que, em inúmeras instituições públicas, uma parte considerável dos contratos de trabalho obedecem a regras semelhantes às do sector privado e os ordenados não correspondem, efectivamente, às tabelas de vencimentos em vigor na administração pública.

Outro número que pairou sobre a cabeça dos portugueses ao longo da semana foi o das vítimas da medida criminosa defendida pelo Orçamento do Estado para o próximo ano: mais de 400 mil portugueses, sendo que (segundo o governo) 88% dos pensionistas ficam fora da medida (será porque têm pensões que não atingem o ordenado mínimo nacional?).

Por entre os números, dados como estes escamoteiam os baixos salários que se praticam em Portugal, fragmentam o universo dos trabalhadores, corrompem a razão e legitimam uma medida que, evidentemente, também vai ter repercussão no sector privado. A imprensa portuguesa, cada vez mais amorfa e obediente a vontades estranhas à liberdade e ao direito de informar, vai fazendo o jeito e, assim, contribui para a desinformação. À boa maneira da propaganda de guerra!


Apenas uma nota: às declarações de Passos Coelho, parafraseando Cavaco há mais de dez anos - ele que, por sua vez, usava a imagem do Leviathan de Hobbes -, “atacar o monstro” não pode ser destruir o País. Neste momento, o “monstro” é o sistema com que este governo pactua e, pior ainda, protege à custa de empurrar Portugal para o sub-desenvolvimento.

quarta-feira, 19 de outubro de 2011

Da doença nacional

Que Portugal é um país doente já ninguém duvida. Dois sintomas claros são o silêncio e o esquecimento. Para não ser forçado a recuar aos que estão ligados ao agravamento sucessivo da maleita, não deixa de ser curioso o silêncio do ex-primeiro-ministro ou do ex-ministro das finanças que, perante os ataques deste novo governo, deveriam ter a dignidade de defender a honra. Ou então, numa postura condigna com o estatuto de antigos governantes, colocarem-se à disposição do povo, através dos múltiplos instrumentos do Estado de direito, para serem prestados esclarecimentos acerca do estado a que chegámos.

Provavelmente, estarei a ser assolado por algum sopro de frio islandês ao desejar pensar os ex-governantes de Portugal como gente de bem e os portugueses como um povo determinado a não pensar que a democracia se esgota nas urnas de voto. Mas, voltando à vaca fria, deixem-me confessar que gostaria de acreditar no velho provérbio “quem não deve, não teme”, bem como, em algo que deveria ser por cá muito mais do que uma abstracção, quer para os agentes políticos quer para os cidadãos. Refiro-me, naturalmente, à justiça.

Depois de anunciar as medidas terroristas e criminosas (como o tempo, tragicamente, dará razão a esta adjectivação!) contidas no Orçamento do Estado, no último fim-de-semana o primeiro-ministro sugeriu que quem gere mal a coisa pública deve ser julgado pelos tribunais. Apesar de todos sabermos que tal não passou de um desabafo inconsequente de alguém que seria certamente réu nesse projecto de intenção, não deixa de ser estranho o silêncio daqueles que, afinal, querem ser esquecidos. Nem que seja por momentos (para depois, à semelhança de outros, voltarem como se nada se tivesse passado), a isso chamar-se-ia honra.

Infelizmente, honra e justiça são, em Portugal, matérias do silêncio e do esquecimento.

quinta-feira, 13 de outubro de 2011

E a Grécia aqui tão perto

Há quem diga, numa talvez pouco graciosa (e até mesmo sensacionalista) teoria da conspiração, que o FMI elegeu a Grécia, e consequentemente Portugal, para exercícios empíricos de pressupostos económicos inéditos. Ou seja, a gregos, mas também a portugueses, como europeus de segunda que são, serve à medida a carapuça de cobaias. Basta querer, que os homens de mão de lá, como os de cá, estão sempre à altura do mandamento.

Não sei se é o FMI que lidera o improvável plano mas, seja lá quem for, e montando o puzzle da inverosímil teoria, vamos percebendo que nós, os portugueses, somos mais gregos do que julgávamos. Historicamente e, sem contar com o legado cultural e filosófico herdado, durante o século XX sofremos a penumbra da ditadura; fomos praticamente contemporâneos na entrada para a CEE; fomos quase gémeos no modelo de desenvolvimento apontado pelos iluminados burocratas de Bruxelas para os nossos países; fomos perfeitos a eleger os piores políticos que, consequentemente, formaram maus governos; e, agora, partilhamos austeridade que se confunde cada vez mais com brutalidade.

Se os gregos chegaram primeiro ao declínio imposto e/ou conspirado (vá-se lá saber...), os portugueses caminham vertiginosamente para os apanhar. Sendo o cinto dos trabalhadores gregos mais folgado que o dos portugueses, o desastre demorou quase dois anos a instalar-se em toda a plenitude. Por aqui, com ou sem conspiração do FMI, depois do Orçamento do Estado para 2012 apresentado por Passos Coelho, temos a garantia que vamos ser gregos mais depressa do que esperávamos. Por este caminho, a taça que não desejamos vai mesmo ser nossa.

quinta-feira, 21 de julho de 2011

Lucian Freud

Naked girl asleep, II (1968)
I want paint to work as flesh... my portraits to be of the people, not like them. Not having a look of the sitter, being them ... As far as I am concerned the paint is the person. I want it to work for me just as flesh does - Lucian Freud (1922 - 2011)

domingo, 10 de julho de 2011

Letargia Lusitana

Ao contrário do expectável num Portugal crítico e são de pensamento, o governo de Passos Coelho e Paulo Portas goza, nestes dias de estio, daquilo que normalmente se designa de “estado de graça”. Perante a crise das crises, convenhamos que é obra! Ainda mais quando há à-vontade suficiente para anunciar ainda mais medidas de austeridade sob as previamente anunciadas aquando das negociações com o FMI e a União Europeia.

Por um lado, os maquiavelismos da opinião dominante triunfaram ao enformar os portugueses no discurso da inevitabilidade das medidas (o acto eleitoral de 5 de Junho foi inequivocamente demonstrativo); por outro, o governo tem sido hábil na gestão de expectativas, respondendo com agilidade populista e demagógica às sensações mais viscerais sustentadas pelos portugueses médios em relação à administração pública e à classe política.

Quanto ao último ponto, Passos Coelho marcou pontos ao reduzir ministros e nomear tecnocratas supostamente “independentes” para alguns ministérios nevrálgicos. A estratégia acabou por neutralizar o impacto do assalto aos lugares nas secretarias de Estado e ainda deu à opinião pública uma imagem de distanciamento da decadência dos aparelhos partidários. Acima de tudo, a cosmética montada por este governo passou por encontrar legitimação através de uma equidistância razoável dos detentores de cargos públicos das máquinas partidárias.

Ao mesmo tempo, embutido numa inteligência puramente neo-liberal e positivista, o governo procurou legitimação na ideia de inoperância do Estado, conquistando simpatias ao apontar as privatizações e a alienação de serviços públicos como medidas fundamentais. De facto, este discurso anti-Estado, que tem ressoado ao longo de décadas, instituiu esse mesmo Estado como grande inimigo do glam pequeno-burguês que qualquer português, com rendimentos nivelados na média nacional, nutre pelo sector público e pelos seus agentes.

O resultado desta estratégia está à vista no estado de letargia em que os portugueses vivem perante o maior ataque de sempre aos direitos dos trabalhadores, ao Estado e ao País. Privatizações, alienação de posições de defesa da soberania nacional em sectores estratégicos da economia, cortes salariais, desvalorização e ataques à função pública são apenas algumas das medidas que parecem ser encaradas como inevitáveis, e até como sinal de “modernização” de Portugal. É incrível!

Enquanto se desmonta o País para o vender em pedaços, vão acontecendo os casos de "lana-caprina", tipo Fernando Nobre e eleição da primeira mulher como Presidente da Assembleia da República, ou ainda o “terrível” ataque dos braços armados da especulação financeira que nos vão considerando “lixo". E, enquanto esfregamos um olho, a austeridade avança em nome da defesa do interesse nacional, sem que na realidade se mexa uma palha para defender o País e o povo português. Bem pelo contrário, como demonstra o desinvestimento político e financeiro em tudo aquilo que poderia retirar Portugal do descalabro em que mergulhou.

segunda-feira, 13 de junho de 2011

Seis anos

É urgente inventar alegria,
multiplicar os beijos, as searas,
é urgente descobrir rosas
e rios e manhãs claras.
Eugénio de Andrade



Fico a pensar que o País não os pode esquecer nunca. Morreram há seis anos atrás e não vislumbro na imprensa de hoje uma linha sobre eles. Apenas seis anos passados...

domingo, 5 de junho de 2011

Nota breve sobre as legislativas



Passos Coelho, uma mistura de espírito intelectual tipo Sócrates com a mirabolante vaga ideia de ser tão ou mais liberal que os liberais nórdicos, ganhou as eleições e vai casar o seu partido, “liberal na economia, conservador nos costumes”, com aquele partido que vive de um homem só. Em suma, digamos que a direita voltou ao Poder, se bem que nunca de lá saiu nas últimas décadas. A agravar, as linhas da governação estão todas traçadas por imposição externa, se bem que a promessa é fazer ainda mais que o anunciado (ou seja, usando a transaparente “opinação” de Maria João Avillez há duas horas atrás, “temos que varrer esse entrave que são os direitos adquiridos”).
Dada a hora tardia e o nervosismo das decepções democráticas, quero apenas deixar a minha indignação sobre uns quantos amigos que, não escondendo a aproximação ao PS, estão a dirigir a sua fúria contra o PCP – o BE parece não entrar nas contas após o trambolhão de hoje. Em suma, culpabilizam a esquerda que chamam “extremista e retrógrada” por não alinhar com a sua “esquerda moderna”, e assim ter aberto o caminho à direita. Sem me querer alongar numa matéria extensa e repleta de factos, sugiro apenas que, nesta noite cinzenta de verão, façam da insónia um acto de reflexão.
Para começar, questionem que esquerda é esta que, ao longo de seis anos (não vale sequer a pena discutir Soares ou Guterres), governou o País. Questionem o que é ser a “esquerda moderna” e tracem um paralelo com as governações ultra liberais de direita na Europa. Questionem porque se lesa o Estado e se penalizam os mais fracos quando se opta por salvar as mais-valias dos accionistas das grandes empresas. Questionem quase tudo o que andaram a fazer ao longo destes anos e vejam o estado a que chegámos.
Temos o direito de mudar de vida e, um dia, queremos crer que o querer também. Por ora, vamos chamando a estes que chegam a direita, sabendo que se fosse com a “esquerda moderna”, de Sócrates e companhia, o caminho não seria muito diferente. Por isso, há quem se recusa a alinhar e a proteger essa desonesta e falaciosa retórica apregoada em nome de algo que não existe.

domingo, 24 de abril de 2011

A impostura

Conta Boaventura Sousa Santos, à saída da reunião com os representantes do FMI/BCE/UE no papel de director do Observatório para a Justiça, que se sentiu perante um interrogatório durante a reunião que com eles manteve. O tom sobre o modo como a troika tem conduzido as audições só pode surpreender os mais incautos. O próprio representante do Comércio e Serviços considerou mesmo que “a troika é bastante hermética” e houve quem deixasse escapar que a postura “está longe de ser a de alguém que vem negociar”.
Não deixa de ser caricato que se vá ouvindo e lendo por aí que estas audições têm um carácter negocial e, como se ouviu a um ex-dirigente do PSD, a troika define-se enquanto “um conjunto de negociadores” das referidas instituições. Em suma, “negociações” e “negociadores” são, nesta matéria, imposturas retóricas que parecem fazer subir a cotação dos que se rendem a uma espécie de beija-mão em nome de eventuais proveitos próprios. Nada mais.
As reuniões mantidas com os partidos políticos vão no mesmo sentido. O PSD está, no essencial, com o receituário da troika, pelo que terá sido isso que Catroga terá anunciado; Paulo Portas, com a habitual argúcia do discurso de campanha, fez gala em referir que lembrou os “negociadores” das limitações constitucionais e da absoluta necessidade de travar as grandes obras públicas. Todos felizes, consideraram-se parte das “negociações”.
À margem da impostura, o PCP e o BE recusaram o folclore montado em torno deste circo. Com razão, apesar do coro de vaias que depressa alastrou, e que em tempos de disputa eleitoral pode fazer mossa. Lucidamente, a esquerda denunciou as pretensas “negociações” e lembrou que cabe ao governo legitimamente eleito (e ainda em funções) ter uma verdadeira palavra negocial. E, perante a humilhação e o rebaixamento desta situação para Portugal, haja quem tenha uma resposta de verdade contra a impostura, em respeito pelo País e pelo povo português.

terça-feira, 19 de abril de 2011

48

Entre as múltiplas inquietações colocadas ao espectador perante 48, a primeira talvez seja perceber o que é que a fotografia mostra e, simultaneamente, oculta, sugerida pelo tipo de emoção que assalta o oprimido no momento em que o opressor o faz pousar para um retrato. Cada foto de cadastro vinda dos arquivos da polícia política tem um rosto que conta uma história maculada de dor, sofrimento, humilhação e medo; mas reserva, também, uma inacreditável capacidade de resistência perante a violência. Porque, assim se pode contar a história de um país ao longo de 48 anos de ditadura.
Aclamado em dezenas de festivais de cinema nacionais e internacionais, vencedor de vários prémios – incluindo o Grande Prémio do Festival de Réel, em França, e o Prémio FIPRESCI no Dok Leipzig, Alemanha –, o filme de Susana de Sousa Dias parte das fotos de cadastro dos presos políticos para estruturar, através da imagem, ou na ausência dela, e da palavra, ou nos silêncios, um olhar transversal sobre a ditadura. Não se confinado apenas à experiência da tortura exercida nos cárceres da PIDE, o filme propõe, pela sua cadência e forma, um convite à reflexão prolongada sobre o modo como o regime manipulava a ordem social, se impunha na vida privada e exercia o poder através do medo e da violência.

excerto do artigo publicado na edição 208 da Lisboa Cultural, de 18 de Abril de 2011

sexta-feira, 11 de março de 2011

Tempos num País à rasca


A pouco mais de 24 horas da manifestação da “geração à rasca” e a oito dias da manifestação nacional da CGTP-IN (naquele que será denominado o “dia da indignação e protesto”, 19 de Março) José Sócrates e Teixeira dos Santos anunciam mais uma versão (a quarta) do famigerado PEC, o desastroso “plano” que arruína o País e a grande maioria dos portugueses, mas parece fazer crescer as maiores fortunas nacionais, conforme noticia o Diário de Notícias na sua edição de hoje.
Tal acontece cerca de 36 horas passadas sob a tomada de posse de Cavaco Silva para mais um mandato, onde o já habitual discurso dúbio e inconsequente fez, por mero tacticismo politiqueiro, pairar algum incómodo no partido do Governo. Talvez por isso, Sócrates e Teixeira apresentaram o PEC 4 sem dar cavaco ao Presidente da República, horas antes da chegada a Bruxelas para a Cimeira da Zona Euro, onde o capataz da Senhora Merkel, Durão Barroso, se regozijou pelo novo pacote de medidas de austeridade, tidas como “muito importantes para convencer os mercados”. A meio da tarde, os “mercados” respondiam a Barroso com as taxas de juro a atingir quase 8% na dívida portuguesa a cinco anos.
Entre tempos, e perante o autismo de um Primeiro-Ministro acossado que já não se coíbe de disparar em todas as direcções e um Presidente da República que sempre foi parte da causa do problema e nunca uma solução, o Bloco de Esquerda ainda apresentou uma moção de censura chumbada à nascença. Apesar de toda a oposição parlamentar bradar em uníssono pelos “pobres portugueses”, e da direita vir o aplauso ao discurso de véspera de Cavaco Silva – onde até coube o aviso de estarmos a ultrapassar o “limite do suportável” quanto aos planos de austeridade –, foi claro para todos que, não obstante termos um Governo que já não existe (e aquilo que resta responde a Berlim, não aos portugueses), os aliados no desastre nacional preferem manter a maçã podre ao invés de evitar que os efeitos do mal nos leva por um caminho sem retorno.
Por tudo isto, e mais do que nunca, é tempo de sair à rua no dia 12 e no dia 19. Não somente em nome de uma “geração à rasca” (por sinal qualificada, precarizada e mal paga), mas em nome de todos aqueles a quem as lógicas perniciosas deste sistema depredador não se cansam de empurrar para o empobrecimento e a exploração.

domingo, 16 de janeiro de 2011

O Amor e a Revolução segundo o jovem Brecht

Escrita nos finais da década de 1910, na ressaca da I Guerra Mundial e da Revolução Bolchevique na Rússia, Tambores na Noite é uma das primeiras peças escritas por Bertolt Brecht, à época tido como um poeta boémio, assaz leitor de Rimbaud, mulherengo e anarquista. Segundo testemunhos posteriores do autor, o texto foi tido como “um perfeito exemplo da vontade humana”, renegado pelo próprio alguns anos mais tarde por sentir que apenas o escrevera por necessidade de dinheiro.
Na verdade, Tambores da Noite (que, ao que se sabe, Brecht nunca encenou), foi um sucesso junto do público burguês, algo que o autor lamentava pelo motivo de que “aquelas pessoas que entusiasticamente me queriam vir apertar a mão eram precisamente o pacote de gente ao qual eu tinha desejado dar um murro na cara”. Como se o teor de uma peça que pretendia surtir o efeito de desmascarar “pecados mortais da pequena burguesia”, acabasse por atingir o público como balas de “um canhão que dispara miolo de pão”.
As motivações financeiras de Brecht manifestam-se, segundo o próprio, na introdução de uma história de amor que seria suficiente para suscitar o “interesse público”. Mas, a trama amorosa que serve de fio condutor a Tambores na Noite acaba por ser uma denúncia feroz, provavelmente imprevista pelo próprio autor e até pouco perceptível pelo público burguês que aclamara a peça à época da estreia.
Tendo como cenário a cidade de Berlim, aquando da revolta dos espartaquistas, em 1918, a história de amor que une a filha de uma família pequeno-burguesa, Anna Balicke (Sara Carinhas), ao noivo que se julgava morto na guerra, Andreas Kragler (Paulo Freixinho), é corrompida pela decadência dos hábitos burgueses, pejados de vícios privados e de insanáveis contradições, às quais Brecht não se coibe de fazer uma crítica impiedosa. O olhar sobre a moralidade burguesa acaba mesmo por encontrar uma vítima, Anna, uma personagem talhada para fazer do homem "não um objecto de uso comum mas sim um artigo de luxo barato".
Mas acaba por ser nessa mesma teia viciosa que rodeia Kragler – um anti-heroi brechtiano por excelência – no regresso à pátria (onde acaba engastado na revolta proletária e incerto dos seus sentimentos e motivações amorosas) que vai acabar por fazê-lo vacilar, preferindo ficar com Anna, mesmo sabendo-a grávida de outro homem. Como sublinhou Brecht em carta a George Grosz, aquilo que “interessava era obviamente a questão da posse” como algo que surge transversalmente aos hábitos burgueses e aos acessos dos proletários revoltosos, e que com algum cinismo se poderia resumir num famoso alerta proferido outrora pelo próprio: “Não se ponham com esse olhar tão romântico!”
Cumprindo a tradição do melhor Brecht que vai voltando a surgir nas salas portuguesas, a encenação de Nuno Carinhas, apesar de um ou outro excesso, propõe uma abordagem apurada a um texto onde é possível descortinar todas as características do teatro brechtiano, embora entroncadas numa estimulante dose de caos e incerteza. A imaginação faz-se elemento essencial num espectáculo onde, a par do “drama familiar e burguês contaminado pelo que se passa no exterior”, persiste o fascínio pela visão poética do jovem Brecht, como se na última cena (de uma beleza plástica notável), ao som de Innocent when you dream de Tom Waits, se encerrasse a síntese de todo um universo.
Versão integral do artigo publicado na edição 195 da Lisboa Cultural (17 de Janeiro de 2011) a propósito da estreia, em Lisboa, da produção do Teatro Nacional de Sâo João, no TNDM II.
Nota final: esta versão inclui, evidentemente, aspectos críticos que não surgem na versão publicada.