quarta-feira, 19 de outubro de 2011

Da doença nacional

Que Portugal é um país doente já ninguém duvida. Dois sintomas claros são o silêncio e o esquecimento. Para não ser forçado a recuar aos que estão ligados ao agravamento sucessivo da maleita, não deixa de ser curioso o silêncio do ex-primeiro-ministro ou do ex-ministro das finanças que, perante os ataques deste novo governo, deveriam ter a dignidade de defender a honra. Ou então, numa postura condigna com o estatuto de antigos governantes, colocarem-se à disposição do povo, através dos múltiplos instrumentos do Estado de direito, para serem prestados esclarecimentos acerca do estado a que chegámos.

Provavelmente, estarei a ser assolado por algum sopro de frio islandês ao desejar pensar os ex-governantes de Portugal como gente de bem e os portugueses como um povo determinado a não pensar que a democracia se esgota nas urnas de voto. Mas, voltando à vaca fria, deixem-me confessar que gostaria de acreditar no velho provérbio “quem não deve, não teme”, bem como, em algo que deveria ser por cá muito mais do que uma abstracção, quer para os agentes políticos quer para os cidadãos. Refiro-me, naturalmente, à justiça.

Depois de anunciar as medidas terroristas e criminosas (como o tempo, tragicamente, dará razão a esta adjectivação!) contidas no Orçamento do Estado, no último fim-de-semana o primeiro-ministro sugeriu que quem gere mal a coisa pública deve ser julgado pelos tribunais. Apesar de todos sabermos que tal não passou de um desabafo inconsequente de alguém que seria certamente réu nesse projecto de intenção, não deixa de ser estranho o silêncio daqueles que, afinal, querem ser esquecidos. Nem que seja por momentos (para depois, à semelhança de outros, voltarem como se nada se tivesse passado), a isso chamar-se-ia honra.

Infelizmente, honra e justiça são, em Portugal, matérias do silêncio e do esquecimento.

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