domingo, 14 de fevereiro de 2010

O Pântano

Não estou a ser original. Já alguém no PS caracterizou, um dia, este país como um pântano. Provavelmente, a fórmula adjectivante ia bem mais além daquilo que supúnhamos. A última semana foi reveladora. E por mais que se lancem no ar as teses da cabala ou umas conspirações engenhosas, o nervosismo e o desnorte com que algumas das mais altas instâncias do país se expuseram demonstram o quanto tudo isto tem de pantanoso.
Há uns largos meses atrás, e na sequência de um badalado artigo do Bastonário da Ordem dos Advogados, escrevi sobre José Sócrates. Não fiz uma análise do político, longe disso. Debrucei-me, sobretudo, sobre o caso Freeport e aquilo que me parecia ser uma maquinação orquestrada por pessoas directa ou indirectamente ligadas ao governo PSD/CDS para atacar, primeiro, o candidato do PS, depois, o primeiro-ministro. Isto sem esquecer que o percurso político e pessoal do individuo José Sócrates não é propriamente dos mais recomendáveis.
De facto, quase tudo em Sócrates é turvo. À semelhança de uma parte considerável da actual classe política portuguesa, ali está representado aquele tipo de homem que se fez dentro da máquina do partido. As pessoas que o rodeiam representam o mesmo, logo, Sócrates é um igual entre os seus pares. Acções que ressoam a pequenas golpadas, enganos e truques, currículos imaginativamente forjados e algumas mentiras. Grave? Com certeza, mas para infelicidade do rumo do País, representam um pouco daquilo com que lidamos diariamente. Porque, infelizmente, a seriedade e a rectidão do carácter é coisa pouco usual nos dias que correm.
Cinco anos de poder, sem contar com seis anos de governação de António Guterres, tornaram o PS o partido que mais tempo liderou o País nas últimas duas décadas. A ocupação da estrutura governativa permitiu a promoção de novas elites políticas que foram ocupando a máquina estatal. Da estrutura governativa à justiça, passando pelos cargos de decisão intermédia, pela gestão dos interesses empresariais do Estado, pelas instituições de supervisão e entidades reguladoras, o Poder foi tomado por iguais entre iguais.
Enquanto cidadão comum, ao assistir a entrevistas como aquelas que o Presidente do Supremo Tribunal de Justiça prestou às televisões esta semana, ao ler diariamente as páginas dos jornais, ao presenciar o silêncio ensurdecedor do Procurador-Geral da República, ao tomar conhecimento do afastamento de cronistas e jornalistas, ao receber mensagens no e-mail denunciando estranhas situações passadas em universidades públicas, entre tantas outras escandaleiras que por aí proliferam, sinto que o meu País foi tomado de assalto. Alegoricamente, e recorrendo a um plot de filme de terror, quem o tomou foi uma espécie de exército das trevas que o transformou num pântano. Será mesmo assim?

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

Diz que é uma espécie de democracia...

... quando a informação é isenta e neutral.

Pois é! E isto não é uma defesa de Mário Crespo, nem quero que as minhas declarações a um jornal nacional figurem na página on-line da Fundação Sá Carneiro.
Aquilo que questiono é o porquê de uma manifestação tão considerável de funcionários da administração pública e local ser absolutamente relegada da agenda mediática.

Para não deixar dúvidas acerca destas breves linhas, vejam o i, o DN, o Expresso… isto, para não falar dos telejornais desta noite.
De facto, para mentes simplistas, poder-se-ia dizer que aquilo que os sindicatos querem é propaganda. Ora, qualquer grande agitação de massas deste género visa inscrever na opinião pública e na agenda políticas as reivindicações. Até porque só é possivel debater se a generalidade da opinião pública tiver em seu poder informação suficiente para o fazer.

Uma questão deixo no ar, transcrevendo Robert Dahl, um insuspeito teórico da democracia liberal: what underlying conditions favor democracy?

Usem o dicionário se preciso, mas reflictam… O que está em causa é a qualidade de uma democracia onde a informação é selectiva ao ponto de silenciar factos e acontecimentos. E este é um problema de todos nós, e não só deste ou daquele sector.