quinta-feira, 21 de julho de 2011

Lucian Freud

Naked girl asleep, II (1968)
I want paint to work as flesh... my portraits to be of the people, not like them. Not having a look of the sitter, being them ... As far as I am concerned the paint is the person. I want it to work for me just as flesh does - Lucian Freud (1922 - 2011)

domingo, 10 de julho de 2011

Letargia Lusitana

Ao contrário do expectável num Portugal crítico e são de pensamento, o governo de Passos Coelho e Paulo Portas goza, nestes dias de estio, daquilo que normalmente se designa de “estado de graça”. Perante a crise das crises, convenhamos que é obra! Ainda mais quando há à-vontade suficiente para anunciar ainda mais medidas de austeridade sob as previamente anunciadas aquando das negociações com o FMI e a União Europeia.

Por um lado, os maquiavelismos da opinião dominante triunfaram ao enformar os portugueses no discurso da inevitabilidade das medidas (o acto eleitoral de 5 de Junho foi inequivocamente demonstrativo); por outro, o governo tem sido hábil na gestão de expectativas, respondendo com agilidade populista e demagógica às sensações mais viscerais sustentadas pelos portugueses médios em relação à administração pública e à classe política.

Quanto ao último ponto, Passos Coelho marcou pontos ao reduzir ministros e nomear tecnocratas supostamente “independentes” para alguns ministérios nevrálgicos. A estratégia acabou por neutralizar o impacto do assalto aos lugares nas secretarias de Estado e ainda deu à opinião pública uma imagem de distanciamento da decadência dos aparelhos partidários. Acima de tudo, a cosmética montada por este governo passou por encontrar legitimação através de uma equidistância razoável dos detentores de cargos públicos das máquinas partidárias.

Ao mesmo tempo, embutido numa inteligência puramente neo-liberal e positivista, o governo procurou legitimação na ideia de inoperância do Estado, conquistando simpatias ao apontar as privatizações e a alienação de serviços públicos como medidas fundamentais. De facto, este discurso anti-Estado, que tem ressoado ao longo de décadas, instituiu esse mesmo Estado como grande inimigo do glam pequeno-burguês que qualquer português, com rendimentos nivelados na média nacional, nutre pelo sector público e pelos seus agentes.

O resultado desta estratégia está à vista no estado de letargia em que os portugueses vivem perante o maior ataque de sempre aos direitos dos trabalhadores, ao Estado e ao País. Privatizações, alienação de posições de defesa da soberania nacional em sectores estratégicos da economia, cortes salariais, desvalorização e ataques à função pública são apenas algumas das medidas que parecem ser encaradas como inevitáveis, e até como sinal de “modernização” de Portugal. É incrível!

Enquanto se desmonta o País para o vender em pedaços, vão acontecendo os casos de "lana-caprina", tipo Fernando Nobre e eleição da primeira mulher como Presidente da Assembleia da República, ou ainda o “terrível” ataque dos braços armados da especulação financeira que nos vão considerando “lixo". E, enquanto esfregamos um olho, a austeridade avança em nome da defesa do interesse nacional, sem que na realidade se mexa uma palha para defender o País e o povo português. Bem pelo contrário, como demonstra o desinvestimento político e financeiro em tudo aquilo que poderia retirar Portugal do descalabro em que mergulhou.