domingo, 9 de maio de 2010

O fim da Europa do sonho?


A crise que abala a Europa, com eventual epicentro na Grécia, revela, num primeiro momento, todas as fragilidades da União Europeia. Mas revela também, de forma inegável, os moldes em que se erigiu este projecto supra-estatal de Europa, sendo cada vez mais evidente o carácter tecnocrático e burocratizado das suas instituições. Considerando as fragilidades a que a crise do euro está a dar eco e os princípios institucionais (mas também ideológicos) que regem a máquina, a Europa enquanto projecto evidencia cada vez mais os sinais de que se estabeleceu contra os povos e os Estados europeus, sobretudo contra os menos poderosos e periféricos.
Com via aberta para se sobrepor a todos os interesses e aspirações dos povos e nações da Europa, o poder financeiro foi ditando a estruturação da construção europeia, evidenciando-se ainda mais a partir dos anos de 1990, quando o fim do bloco socialista abriu caminho para uma fase de destruição do Estado Social, que até aqui caracterizava o ímpeto social-democrata na Europa ocidental em contraponto ao socialismo. A evidenciá-lo está a constatação, sem exageros, de que os agentes financeiros privados e os seus braços especulativos são os verdadeiros donos da Europa, assegurando os destinos dos Estados e ditando as regras desde que a política e até mesmo a economia se demitiram de o fazer.

Mas o que esta crise anuncia, por mais que se consolidem planos e reformas messiânicas que passam, sem excepção e uma vez mais, por empobrecer as grandes massas de europeus, é o fim da grande ideia de prosperidade e riqueza que tornou a Europa, desde os finais da II Guerra Mundial, o continente no mundo onde melhor se vivia. Até quando se verificará essa qualidade de vida quando o que se avizinha são as lógicas mais destrutivas da voracidade dos interesses capitalistas? Sem pejo ideológico, talvez se recomendasse uma leitura de Lènine, mais concretamente o opúsculo “O Imperialismo – Fase Superior do Capitalismo”, para entender que os indicadores que levaram a Europa à guerra em inícios do século XX talvez comecem, de novo, a verificar-se. O próprio General Loureiro dos Santos tem no prelo um livro, intitulado “As Guerras que já aí estão e as que nos esperam”, que adverte sobre a profunda instabilidade dos tempos que vivemos, demonstrando com lucidez e pertinência algumas evidências que anunciam mudanças estruturais à escala mundial.

O sonho da Europa parece estar a definhar-se. Os tempos que aí vêm perspectivam inúmeros focos de instabilidade social e as receitas apontadas para salvar os anéis evidenciam um incremento cada vez mais violento e feroz do poder dos mercados sobre os Estados. A Grécia, que tanta tradição na vanguarda das ideias e do pensamento da humanidade imprimiu, anuncia o princípio de mundo novo em tempos cada vez mais incertos. Por este caminho tortuoso, estará louco quem não se mostre reticente quanto ao futuro.