terça-feira, 30 de junho de 2009

A Morte a Três



As vedetas morrem a três? De quando em vez acontece, como se uma chamasse a outra e a outra. Foi assim com Hendrix, Joplin e Morrison, e agora com Fawcett, Jackson e Bausch. Claro que todo este paralelismo poderá parecer absurdo. O primeiro trio vinha do mundo do rock e todos andavam nos vinte, trinta anos, para além de pouco tempo antes ter morrido também Brian Jones, o que somado ao mítico american trio poderia ter formado um quarteto . Agora, este trio que desaparece na velocidade estonteante de cinco dias (e não de cerca de um ano), pouco teria de comum entre si, à excepção do mediatismo que cada um reuniu em torno das suas personalidades e, em certa medida, das suas obras. Com honrosas e diferentes amplitudes, esclareça-se.

quinta-feira, 25 de junho de 2009

Estórias de Ricos

E certo dia uns quantos ricos zangaram-se… Zangaram-se de tal forma que logo a adormecida Sra. D. Justiça foi convidada a acordar.
O Comendador Joe, jogador e homem das artes apesar do estranho sotaque, afortunado dos tempos em que ainda havia filões a dar ouro, não perdoou a cinco magnânimes regedores de uma empresa de agiotagem - usualmente designada banco -, e sem piedade nem complacência, como se sentimentos desses fossem catarses de católicos ascetas, despertou a sonolenta Sra. D. Justiça, tão laica e balanceada quando engalanada chega e caminha para a verdade.
Estimulada pelo estremeção de tão varonil dedo acusador, logo bradou Assim não, meus senhores. E acusou no pressuposto de palavrões conjugados, do qual resultam conceitos como manipulação de mercado, falsificação da contabilidade, burla qualificada… mas, no essencial e para o vulgo e comum mortal entender, algo que se resume a qualquer coisa como vinte e quatro milhões de euros – o que na moedinha pobretana do antigamente dá uns doze milhões de contos, mais tostão menos tostão – distribuídos pelos cinco malandrins, sabe-se lá em que quinhões.
Navegando por estas águas turvas do mundo de agiotagem e semelhantes malfeitorias, lá vem ao banzé o badalado offshore das Ilhas Caimão, espécie de paraíso na terra para banhos de capital. Julga-se que era aí que se debruava a tramóia… mas por agora é só julgar, pois até já soam burburinhos maldizentes que acham que a senhora pode voltar a adormecer. Até porque estas coisas de ricos são tudo invejas e, bem visto o panorama, isto é gente que resolve as coisas como gentlemenes.
Se eu fosse o narrador desta história até ao momento em que se lê fim, dava-se um salto às Caimão ou ali à Suiça, os cinco levantavam o pilim, devolviam-no e esquecia-se isto do deve e da manipulação e da burla!... Era uma poupança de trabalhos e gastos. E o Comendador Joe, se não gostar, vá passear ao museu ou jogar na bolsa que a Sra. D. Justiça volta já para a caminha.

quarta-feira, 10 de junho de 2009

Notas sobre as Europeias (II)


Reconheço que parte do meu último texto sobre as Europeias se tornou praticamente obsoleto logo no dia a seguir. Na verdade, e apesar da minha formação académica enfermar em tentações cientificas muitas vezes arriscadas, como o recurso a sondagens para apontar resultados previsíveis, não tenho por hábito guiar-me por este tipo de estudos (venham eles donde vierem) para aferir os pulsares da política, até porque não me parece que esse tipo de exercícios matemáticos aplicados à vontade ou à escolha das pessoas sejam capazes de produzir resultados estritamente científicos. Para não alimentar polémicas, até sou capaz de nutrir respeito por quem os persegue, mas, permitam-me que me mantenha céptico, independentemente da minha admiração por quem não desiste da objectividade dos números atingidos enquanto resultado de exigências metodológicas honestas. De facto, as sondagens pré-eleitorais relativas ao acto do passado domingo revelaram-se de uma assertividade desastrosa. Nada de inédito, é certo, mas desta vez, talvez pelo desenlace final, poucos se escusaram em apontar as insuficiências das previsões, colocando em causa desde o método à objectividade com que são trabalhadas as amostragens e consequentemente os resultados por elas produzidos. Em suma, eu próprio caí na armadilha das sondagens e com base nelas adiantei uma derrota do PSD e do seu candidato, independentemente do empate técnico que se apontava. Não foi assim. O PSD ganhou as eleições e Paulo Rangel, um candidato aparentemente fraco ganhou margem para que fazedores de opinião o catapultem para voos nunca dantes imaginados.

O álibi da abstenção foi bradado pelos técnicos de sondagens como causa primeira para o falhanço. Mas é esse mesmo álibi que parece servir ao actual partido de poder para desvalorizar a votação histórica conseguida pelos dois partidos à esquerda do PS. A lógica parece assentar num acto eleitoral que mobilizou maioritariamente quem quis votar contra o governo. Até parece aceitável mas, ao vermos o Bloco de Esquerda e o PCP a ultrapassarem juntos a barreira dos 20% dos votos parece legítimo e politicamente honesto tirar ilações. É que para além do voto de protesto, é premente equacionar que há uma franja cada vez maior de eleitores a não se reconhecerem na política de sempre, simbolizada em PS, PSD e CDS.

A ultrapassagem em número de votos e mandatos pelo BE ao PCP (apesar da margem ser mínima) é evidentemente um facto inédito no panorama político nacional, uma vez que nunca o PCP se viu ultrapassado à esquerda. Apesar do excelente resultado da CDU, há naturalmente, para o PCP, um incómodo compreensível nesta nova arrumação do quadro partidário português. A grande dúvida é se o resultado eleitoral do BE é consistente noutro cenário eleitoral. Independentemente do elevadíssimo valor da abstenção, crê-se que o crescimento eleitoral do BE se deveu, sobretudo, a uma canalização de votos de simpatizantes do PS que aproveitaram a eleição em causa para mostrar o seu desagrado com a actuação governativa. A ténue aproximação do militante e deputado socialista Manuel Alegre ao partido de Francisco Louçã poderá também ter tido algum impacto na votação obtida uma vez que os “alegristas” não se cansam de valorizar o resultado conseguido pelo poeta-deputado nas últimas presidenciais em oposição ao seu próprio partido. E o certo é que este resultado do BE tem forçosamente uma ligação clara com o paupérrimo resultado obtido pelo PS. Por tudo isto, será extremamente interessante verificar o fenómeno BE nas legislativas e já agora saber como se comportará o eleitorado consistente do PCP em oposição ao eleitorado mais volátil do BE num cenário com uma previsivel menor abstenção e com outras e mais relevantes dinâmicas em causa.

sábado, 6 de junho de 2009

Notas sobre as Europeias

O acto eleitoral:
Em vésperas de eleições para o Parlamento Europeu pulsa-se mais um acto eleitoral marcado pela abstenção, à semelhança do que se passa noutros Estados membros que já iniciaram as votações. Poderão apontar-se inúmeras variáveis que contribuem para o desinteresse dos europeus neste acto eleitoral mas torna-se incontornável que um dos vectores que mais empurra os eleitores para a abstenção é o próprio conceito de Europa estruturado por uma burocracia institucional situada entre Bruxelas e Estrasburgo. De facto, a Europa enquanto instituição política é uma abstracção aos olhos do cidadão comum, seja aqui, seja em França, Espanha ou Alemanha. A face elegível pelo cidadão desta abstracção é o Parlamento Europeu, o órgão constituído pelas famílias políticas transnacionais geradas das tendências nacionais dos Estados membros da União que, teoricamente, representam as nossas vontades na tomada de decisões. Teoricamente, volto a sublinhar, porque aquilo que de facto ali se representa é toda uma rede tecnocrática amorfa e distante dos cidadãos que contribui para que a Europa enquanto conceito se encontre numa crise profunda e o eurocepticismo ganhe cada vez mais terreno em todos os Estados membros. Quando uma nomenclatura burocrática afasta ou pressiona os cidadãos nas decisões mais importantes (veja-se todo o historial da Constituição Europeia ou da sua versão soft chamada Tratado de Lisboa), o pronuncio acerca do modelo institucional desta Europa só pode ser negativo.

Escolhas:
A poucas horas de se começar a votar em Portugal, e fazendo fé nas sondagens, o partido do governo arrisca-se mesmo a vencer as eleições. Ao contrário da tendência tipo nos outros países da Europa, nem a crise e as múltiplas conflitualidades com a governação, nem mesmo a degradação institucional que paira um pouco por toda a parte parecem ser suficientes para levarem o eleitorado que amanhã se mobilize a derrotar o PS. Não deixa de ser preocupante para o principal partido da oposição, e também para o País, que a maioria do eleitorado não reconheça outras soluções para lá da que está no poder. Mesmo num cenário de empate técnico, o PSD é um vencido anunciado porque todas as condições conjunturais deveriam proporcionar-lhe uma vitória esmagadora e não um empate técnico. O PS de Sócrates até pode não ganhar nos números, mas anuncia-se que resista, o que só não é surpreendente porque o PSD de Ferreira Leite não encontra engenho nem rumo para se apresentar ao eleitorado, conforme demonstrou a campanha eleitoral de Paulo Rangel, feita entre clubes de elite e umas medrosas arruadas. Na verdade, até nem se pode dizer que o PS não tenha ajudado ao escolher o pior cabeça de lista possível: Vital Moreira foi mesmo muito mau e produziu embaraços suficientes para dar folga aos adversários. Mas, nem assim; e ainda há quem pense e propague que Paulo Rangel foi uma “excelente” escolha!