sábado, 6 de junho de 2009

Notas sobre as Europeias

O acto eleitoral:
Em vésperas de eleições para o Parlamento Europeu pulsa-se mais um acto eleitoral marcado pela abstenção, à semelhança do que se passa noutros Estados membros que já iniciaram as votações. Poderão apontar-se inúmeras variáveis que contribuem para o desinteresse dos europeus neste acto eleitoral mas torna-se incontornável que um dos vectores que mais empurra os eleitores para a abstenção é o próprio conceito de Europa estruturado por uma burocracia institucional situada entre Bruxelas e Estrasburgo. De facto, a Europa enquanto instituição política é uma abstracção aos olhos do cidadão comum, seja aqui, seja em França, Espanha ou Alemanha. A face elegível pelo cidadão desta abstracção é o Parlamento Europeu, o órgão constituído pelas famílias políticas transnacionais geradas das tendências nacionais dos Estados membros da União que, teoricamente, representam as nossas vontades na tomada de decisões. Teoricamente, volto a sublinhar, porque aquilo que de facto ali se representa é toda uma rede tecnocrática amorfa e distante dos cidadãos que contribui para que a Europa enquanto conceito se encontre numa crise profunda e o eurocepticismo ganhe cada vez mais terreno em todos os Estados membros. Quando uma nomenclatura burocrática afasta ou pressiona os cidadãos nas decisões mais importantes (veja-se todo o historial da Constituição Europeia ou da sua versão soft chamada Tratado de Lisboa), o pronuncio acerca do modelo institucional desta Europa só pode ser negativo.

Escolhas:
A poucas horas de se começar a votar em Portugal, e fazendo fé nas sondagens, o partido do governo arrisca-se mesmo a vencer as eleições. Ao contrário da tendência tipo nos outros países da Europa, nem a crise e as múltiplas conflitualidades com a governação, nem mesmo a degradação institucional que paira um pouco por toda a parte parecem ser suficientes para levarem o eleitorado que amanhã se mobilize a derrotar o PS. Não deixa de ser preocupante para o principal partido da oposição, e também para o País, que a maioria do eleitorado não reconheça outras soluções para lá da que está no poder. Mesmo num cenário de empate técnico, o PSD é um vencido anunciado porque todas as condições conjunturais deveriam proporcionar-lhe uma vitória esmagadora e não um empate técnico. O PS de Sócrates até pode não ganhar nos números, mas anuncia-se que resista, o que só não é surpreendente porque o PSD de Ferreira Leite não encontra engenho nem rumo para se apresentar ao eleitorado, conforme demonstrou a campanha eleitoral de Paulo Rangel, feita entre clubes de elite e umas medrosas arruadas. Na verdade, até nem se pode dizer que o PS não tenha ajudado ao escolher o pior cabeça de lista possível: Vital Moreira foi mesmo muito mau e produziu embaraços suficientes para dar folga aos adversários. Mas, nem assim; e ainda há quem pense e propague que Paulo Rangel foi uma “excelente” escolha!

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