sexta-feira, 1 de janeiro de 2010

2010

(O primeiro ano da segunda década do milénio, a partir de fragmentos de um humanista ocidental)
Há dez anos atrás, o mundo encontrava-se suspenso por chegar a 2000, e a ameaça anunciada perfilava-se num bug informático que nos arrastaria para o caos. Parece caricato, como caricato parece relembrar o caos que se anunciou e nunca aconteceu. E nem pensar nas referências bíblicas ou nas profecias catastrofistas de Nostradamus e semelhantes charlatães de vistas largas que alimentam os mitos e os ritos de uma humanidade sequiosa por crenças e medos forjados nas incertezas do futuro.
Mas saltemos para o último dia do ano que findou. O ano que deixou para trás uma década onde tudo aconteceu daquilo em que a história dos homens é pródiga: fome, guerra, flagelos, vida e morte, e tudo mais. A nossa civilização rejubilante pintalgada em fogos de artifício, inovações tecnológicas e riqueza a rodos, ou a grande falácia em que nos instalámos, fazendo-nos tão prósperos que abandonámos a natureza mais autêntica da realidade em que vivemos? Porque se agora tudo é global, porque continuamos a pensar que o nosso estado civilizacional baseado em consumo e opulência é uma verdade inquestionável. Será porque teimamos em não entender nada do que se passa à nossa volta e preferimos escondermo-nos nas nossas carapaças de indivíduos tecnológicos?
Seria demasiadamente demodê, para não o considerar fora de tempo, lançar-me aqui num balanço do ano ou da década. Isso nem sequer faz sentido, mais ainda se estamos num estádio de pensamentos e de racionalidades imediatas e descartáveis. Em suma, nada mais seria que uma perda fastidiosa de tempo num feriado em que se pensa o que muda ou pouco muda a partir deste ponto do calendário. O que sucedeu ao longo dos dez anos passados sobre 2000 que nos mereça um registo consistente? - o impensável a 11 de Setembro de 2001? a guerra reeditada no Iraque e no Afeganistão? a crise do capitalismo global? a agonia do planeta?
Seguimos na continuação incerta de tempo irregularmente incerto. Vamos tentar perceber para onde nos leva o estado a que chegámos. Continuaremos iludidos, com certeza, até nos surpreendermos; é humano, demasiadamente humano! A crise económica, os fundamentalismos religiosos, os paradigmas que teimosamente persistem. A tudo isto, junta-se um planeta gritando socorro, e a ressaca das frustrações de Copenhaga a apontarem como somos estupidamente suicidas.
Hoje, aqui estamos. E, daqui a dez anos, como será? - Um novo ano, uma nova década, e tal como hoje, aqui e ali, uns quantos lutando por um mundo melhor, mais livre, mais equilibrado e mais justo. Em nome da humanidade, que essa bandeira seja hasteada por cada vez mais gente, rumo a um futuro necessariamente comum.

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