domingo, 17 de janeiro de 2010

"Caim" ou uma digressão pelo Antigo Testamento


Não bastavam Sodoma e Gomorra arrasadas pelo fogo, aqui, no sopé do monte Sinai, ficara patente a prova irrefutável da profunda maldade do senhor, três mil homens mortos só porque ele tinha ficado irritado com a invenção de um suposto rival em figura de bezerro, Eu não fiz mais que matar um irmão e o senhor castigou-me, quero ver agora quem vai castigar o senhor por estas mortes, pensou Caim, e logo continuou, Lúcifer sabia bem o que fazia quando se rebelou contra deus, há quem diga que o fez por inveja e não é certo, o que ele conhecia era a maligna natureza do sujeito.
Caim”, José Saramago

Que raio de deus é este que louvam. O tal, esse ente omnipotente, omnipresente, omnisciente que ama os homens mas traz-lhes a desgraça, ou para simplificar, indo ao encontro do escritor, esse que não nos entende, nem nós o entendemos a ele. Este “Caim”, que José Saramago transformou viajante do tempo e do espaço entre episódios bíblicos do Antigo Testamento, vem marcado por deus e jogado à sua sorte no mundo, e pelo criador talhado há-de fazer das tripas coração para perceber onde está o bem que tanto se proclama vir do céu.
Por que dilemas e provações passará Caim nesta jornada bíblica, narrada à moda dos jograis, que se ainda os houvesse fariam coisa parecida com este grande pequeno livro de Saramago. Caim, o que matou o irmão porque o senhor o renegou. O que foi poupado para ver quão maléfica pode ser a justiça divina, capaz de derramar sangue ou cuspir fogo sobre cidades, ou exasperar-se com a criação e tudo prover inundar. E ali, condenado à existência solitária resta o debate sem fim com ele, o divino, o criador, esse louvado deus de glórias e misérias humanas e sob-humanas.
foto: Diário de Notícias

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