terça-feira, 19 de janeiro de 2010

Essa Liberdade de Expressão

Estou provavelmente em ressaca de “Caim”. Quero ter a liberdade de discutir com deus, mas também com os homens. Sinto que as verdades deste mundo violam simplesmente algumas regras predefinidas… o quanto odeio predefinições, por achá-las pacóvias e mesquinhas, nascituras de ocasos aleatórios de decadência extrema. Porventura, mesmo castradoras e exangues nas abordagens. Porque o maravilhoso na nossa individualidade somos nós, e por mais que seja dolorosa, tenhamos que conviver com ela, a debilitada individualidade.
Mas, comecemos pelo princípio da narrativa, que pomposamente assim se chama por não querer o autor apelidá-la de episódica ou meramente fugaz, porque assim são as normas do português vivo e olvidado das palavras ainda não contempladas nos mistérios da objectividade e da síntese.
À séria, acabo de ler, no último número da revista do “Clube de Jornalistas”, o seguinte:
Há um jornal na praça que se orgulha de escrever tudo em trinta linhas e usar 100 palavras, uma coisa dessas. As razões decorrem do facto {o autor é brasileiro e usou “fato”} de que o jornalista despreza o público nativo. Ele tem a certeza de que a maioria é composta por imbecis. (…) Eles tentaram se adaptar à imbecilidade dos leitores”
A autoria destas palavras vem de Mino Carta, jornalista brasileiro de origem italiana, ex-editor de algumas das mais importantes publicações brasileiras, e a crítica assenta que nem uma luva no perfil editorial da revista Veja, a mais vendida e difundida no Brasil. Reconhecem-na com certeza, na nossa lusitana praça, feita de is de informação ou públicos decompostos em combustão, para aqui não acrescentar essa espécie descrita como diários de... etc. e tal (sem favoritismos, digo eu que prezo a palavra de honra)?
Não vou esgrimir os argumentos de um jornalista brasileiro que considera o jornalismo brasileiro “medíocre”. O nosso também é; Olá, meus caros amigos, se é!
Há 10 anos, trabalhei num dos maiores jornais nacionais e depressa me apercebi que o jornalismo é um fúlgido exercício de manutenção da tentadora fogueira de vaidades em que mergulhámos; eis o 4ª poder tornado poder estéril, tacanho e opressor, como todo o poder. Belos tempos em que se produziam jornalistas de carne e osso que entendiam o universo jornalistico como o caminho da verdade, olhando o mundo como um todo, enfrentando mordaças e becos inevitáveis. Rectas criaturas, louvado seja deus!
Bairro Alto, lembram-se? Explicito bem o burgo nacional destes seres, hoje "imundos" e ocasionais escritores, os que o são, aos olhos de puritanos e conservadores de espirito. E relembro, essa universidade conjugada num verbo inexistente, sempre universal, declinado em factos dignos como o de ser livre. Mesmo que os tempos detenham o método pernicioso de fazer parecer aquilo que não se é, livre, pois então! Duvidam? vejam os nomes de que lá sairam: pelo menos um nobel e mais uns quantos de costela hirta e esfíncter recto (apesar de honrosas excepções, que é nisto que se é humanamente belo, apesar de tudo o mais!).
Assustador, é quando me apercebo o que se passa, hoje! Creio cada vez mais na falácia da nossa academia que é burra, castradora e estupidificante. E, sem temores, o nosso mundo vai mal quando o supletivo é o conteúdo. Somos uma farsa. A nossa liberdade é uma farsa. Como o verbo o é!
Ai, o verbo o é! Duvidam?

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