segunda-feira, 4 de outubro de 2010

A propósito da "Festa do Cinema Francês"


Poucas cinematografias no mundo se podem orgulhar de ter exercido uma tão forte influência sobre o cinema como a francesa. A França não só “inventou”, como teve o engenho de assumir as rupturas necessárias para projectar o cinema como forma plena de expressão artística. Da escola vanguardista dos anos 20 à nouvelle vague, nos anos 50 e 60, foram os franceses que criaram o realismo poético, que deu ao mundo obras tão influentes como A Atalante, de Jean Vigo ou A Grande Ilusão, de Renoir.
Após o fulgor da nouvelle vague, com cineastas maiores como Goddard, Trauffaut ou o recentemente desaparecido Claude Chabrol, o cinema francês foi acusado de entrar numa fase de decadência, reflexo da incapacidade de evitar a colagem de rótulos muitas vezes simplistas por parte do grande público. Sem cedências ao óbvio, a França continuou a produzir cineastas de primeira linha, dos quais se destaca, a exemplo, André Téchiné, homenageado com uma retrospectiva integral na 11ª edição da Festado Cinema Francês, que esta semana se inicia em Lisboa.
Numa altura em que os blockbusters produzidos em Hollywood dominam a exibição comercial um pouco por toda a Europa, a Festa do Cinema Francês dá a conhecer, em Portugal, novas obras e novas tendências de uma cinematografia que, tradicionalmente, ruma contra a corrente e que, quando não se rende ao facilitismo de fórmulas importadas, mantém uma coerência assinalável, seja por via dos novos talentos que despontam, seja pela constante reinvenção de cineastas já consagrados.

Texto para o editorial da edição 181 da Lisboa Cultural, publicada a 4 de Outubro

Sem comentários: