domingo, 10 de outubro de 2010

"Fab Four from Dublin"

Faz ainda algum sentido ser inocente ao ponto de vibrar com uma banda de rock´n´roll? Não sei, muito sinceramente, se sim se não, mas confesso que me continua a dar um gozo muito especial “agarrar” os U2 e tê-los comigo por perto. Talvez por isso, o concerto do último sábado, em Coimbra, foi memorável. Mais ainda, porque ali se sintetizou o reencontro pungente do poder libertador do rock com algumas das canções que fizeram a banda sonora da minha vida. Chamemos-lhe omnipresença, porque das entranhas da Irlanda católica só podia mesmo ter nascido algo divinal, e tal não se resume somente a Joyce ou a Becket, nem mesmo ao deus da contenda que a norte continua a fermentar discórdia.
Os U2 continuam a ser magnânimes. Eles existem para lá das polémicas com as posturas de “miss peace in world” de um certo Bono nos fóruns de Davos e afins, ou com os interesses algo obscuros que a marca U2 vai tendo no sentido inverso ao discurso proferido publicamente. Discurso esse que, sejamos francos, roça tantas vezes o pueril, por mais que muita gente, mundo fora, sinta Bono Vox e os seus companheiros como missionários do rock a contribuir para um mundo melhor. Não me apetece entrar por esse sinuoso caminho da controvérsia, até porque, à sombra dos dias, o que desejo é mesmo “a real glimpse of rock´n´roll”. E nisso, o mundo melhor dos U2 é, de facto, o da música que têm produzido ao longo de mais de 30 anos de grandes, muito grandes, canções.
Mais de duas horas no meio de uma multidão que arreigou os temas inconfundíveis que a guitarra de um tal de The Edge não deixa de sustentar incessantemente entre uma certa tradição popular irlandesa e os recursos ilimitáveis da música pop. A ele, juntam-se um Bono teatral q.b. (mas mais humanizado e despojado de artifícios do que havia visto na Pop Mart Tour, em 1997) e os metódicos, mas discretos, Clayton e Mullen Jr. Os quatro de Dublin produzem, como já vem sendo hábito nas últimas décadas, um dos maiores espectáculos do mundo. O resto, como é devido a uma banda chamada U2, cabe ao público.
E, numa Coimbra embalada entre a tradição centenária de cidade estudantil e a “garra” irlandesa coube mesmo a harmonia perfeita entre os que actuam e os que assistem. O que seria dos U2 se, ao invés da música, tivessem ido à universidade? A resposta dos fãs poderia ser, provavelmente, a de não terem sentido a emoção de cantar um clássico como I still haven´t found what I´m lookin´for perante o olhar dos seus criadores. Nem, de certo, continuaríamos a vibrar incessantemente com aqueles quase cinquentões que são, mesmo, a maior banda rock do mundo.

With or without you. Coimbra, 2 de Outubro.
foto e video: FB

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