sábado, 7 de novembro de 2009

O Emprego Certo

Recordo perfeitamente, no dia em que apresentei a minha dissertação de licenciatura, que após o descomprimir do momento fiquei à conversa com os meus avaliadores. O mais velho, um destacado catedrático da praça, não teve qualquer recato em afirmar que o melhor veículo para garantir um emprego certo é, definitivamente, um partido político. E, numa sinceridade espontânea, acrescentou que se fosse jovem admitiria a filiação em qualquer um para se assegurar, sugerindo-me um lacónico "pense nisso".
Ao longo dos meus anos de vida profissional no sector público acabei por entender a evidência dessas palavras. Conheci gente de todos os quadrantes políticos e até vi o cartão de um partido resguardar da ameaça do despedimento, mesmo sendo o “poder” do contra. Ali estava a garantia do emprego certo que o catedrático falava, ainda mais porque, efectivamente, aconteceram uns tantos despedimentos "apartidários".
Hoje, ao folhear um jornal, deparo com a indignação (legítima) da oposição na Câmara Municipal de Loures ao presidente, razão pela qual recordo este episódio. Ao que se apurou, o presidente eleito pelo PS nomeou, para o seu gabinete, a filha e o cunhado, alegando a independência da escolha imanente a um cargo de assessoria que requer a máxima confiança pessoal. Nepotismo, aliado aos interesses do partido, resumem o episódio.
Nada demais, na procura do emprego certo e garantido, e de gravidade menor se olharmos para outros processos bem mais complexos. Eu, permitam-me, considero-o um episódio imoral e sintomático de uma crise profunda dos valores da res publica. Infelizmente, é um entre muitos por esse país fora.

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