quinta-feira, 7 de maio de 2009

Contra-ciclo

Em tempos de crise, um novo jornal pago chegou hoje às bancas. Numa altura em que a tendência internacional é a redução humana das redacções e até mesmo o reequacionar da continuidade de um formato como o jornal em papel (escrevi algures sobre isso num texto já aqui publicado e na decorrencia da revolução que têm sofrido muitos jornais norte-americanos) a chegada do «I» parece surgir em completo contra-ciclo. Eis algumas inquietações:
Não querendo ser injusto na avaliação deste primeiro número chegado hoje aos escaparates, tudo me leva a crer que o «I», ao contrário do que escreve o editor do jornal (“tudo isto aqui é novo”), não traz nada de inédito ao panorama da imprensa escrita, à excepção de disponibilizar em português peças do «New York Times», incluindo crónicas de alguns dos seus colunistas como Thomas L. Friedman ou Paul Krugman. Nada que, a exemplo, a «Visão» não faça recorrentemente com a «Time».
O jornal agrafado em jeito de revista faz recordar o gorado semanário «Já» de Miguel Portas. A arrumação das páginas lembra as mudanças no «Diário de Noticias» em inícios da década, cheio de sínteses e caixinhas que servem mais para dispersar do que para cativar, apesar de (e citando o argumento com que se implementou esse modelo no DN) ser esta a fórmula que melhor corresponde aos anseios do leitor moderno.
Entre algumas pobrezas que se vão detectando página a página - como falta de contexto de uma série de troca de frases soltas entre David Cameron e Gordon Brown na rubrica internacional («Radar Mundo») ou de uma síntese dos dois anos de governação Sarkozy em três caixas que apenas ali parecem estar a fechar a página (não obstante a participação de um "tal" de Vasco Rato numa das colunas a dizer «cedendo à pressão dos protestos» - vide página 16), - destaco aquilo que me parece um pouco abusivo da parte de um director de jornal que julga, na sequência dos artigos de opinião publicados e a publicar no «I», que “a opinião orienta os raciocínios”. O verbo orientar não parecerá pernicioso e denunciador de excessiva presunção quando aplicado a colunas de opinião publicadas na imprensa?
Em sintese, o «I» de informação que agora chegou tem a variável on line que prometo visitar para procurar o prometido “novo” mundo da informação. Por ora, ficarei por aí; o papel, mesmo que em provável contra-ciclo, não convenceu.

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