sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

A traição ainda é o que era

Talvez seja porque hoje é o dia em que Manuel Carvalho da Silva abandona a liderança da CGTP que me ocorre escrever sobre a UGT e João Proença. Parece que o estou a ver, bonacheirão, nas conferências de imprensa ocorridas por ocasião das duas últimas greves gerais. Como se o sucesso da luta dos trabalhadores portugueses tivesse passado pelo seu contributo. Recordo também uma outra greve em que o anafado Proença estava no estrangeiro, mas fez questão de chamar a imprensa portuguesa para comunicar ter dado indicação para que lhe fosse retirado um dia de vencimento, à semelhança de todos os que aderiram a essa acção de luta. Que altruísmo comovente o do Proença!
Agora, quando o vimos a assinar com os sujeitos do Governo e o patronato uma autêntica ofensiva contra o trabalho e os trabalhadores portugueses, assistiu-se a mais um one man show de sacanagem e aldrabice à moda dos Proenças deste país. Contra a classe que ousam afirmar representar; contra a classe que ousam aclamar defender enquanto lhes martelam pregos nas palmas das mãos. Primeiro, veio com a cantilena do mal menor; depois, tal Judas, assina o pacto de traição e desculpa-se acusando a CGTP de o pressionar a manter negociações e colocar a assinatura. Que habilidade aparvalhada a deste Proença!
Independentemente de tudo isso, os mais incautos terão caído na ratoeira como rato à coca de queijo. O favor do Proença ao patronato e as desculpas imorais que foi proferindo atingiram todo o movimento sindical, incluindo a CGTP que, dignamente, abandonou a farsa que os lacaios do patronato – ou seja, o Governo – estavam a montar. E atingiu porque, uma vez mais, arrastou a posição dos sindicatos para a lama ao trair os interesses daqueles que representam, os trabalhadores. E todos sabemos como a imagem das instituições está pelas ruas da amargura!
Surpreendente? Claro que não. Uma vez mais para os incautos, há que propor um olhar para o passado da UGT e dos seus líderes, desde a sua fundação em 1978, após as lutas fracturantes no seio da Intersindical. Há material suficiente a circular para percebermos, de uma vez por todas, que na génese da sua criação estava a divisão dos trabalhadores portugueses e o enfraquecimento das suas lutas. Isso foi, à semelhança do que tem acontecido com os próprios partidos políticos, determinante para a criação de um estado de desconfiança e de falta de credibilidade que, lentamente, assoma e toma conta do regime. À medida de quem puxa os cordéis.
Por tudo isso, esta traição é mais uma, provavelmente a mais grave até ao momento, mas de facto apenas mais uma. Ou não fosse, para a UGT e os Proenças que por lá militam, a traição uma prática histórica.

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