sábado, 1 de novembro de 2008

Obama (I) - a «mudança»

O sítio da internet da campanha de Barak Obama leva à exaustão a palavra que marcou todo o marketing de uma campanha: CHANGE. O mote em redor de cada campo da página Web é precisamente «change – we can believe in». Como característica bem americana, a «change» proposta por Obama comporta uma carga messiânica bem vincada – num dos atalhos da página lê-se «Front Row to History», conduzindo o visitante a um campo onde, a troco de um donativo, poderá vir a fazer parte do grupo de pessoas que estará no Grant Park de Chicago, na noite das eleições, a presenciar o momento “histórico” da anunciada vitória.
Simultaneamente, o apelo à união entre facções do partido é bem vincado nesta altura pelos estrategas de marketing político de Obama: «Welcome Hillary Supporters» é um atalho bem destacado na página, visando envolver todo o partido na campanha. Esse sentido de unidade supera os limites do próprio Partido Democrata, destacando-se uma lista de personalidades mais próximas de fileiras republicanas que se viram “cooptados” pelo projecto de Obama. O nome mais notório é o de Colin Powell, ex-secretário de Estado de George W. Bush.
Seguindo a viagem pelo sítio, é possível continuar a embater em mais «mudança». Numa t-shirt oferecida a todos os contribuidores da campanha pode ler-se «one voice can change the world». Mais uma vez, a palavra «mudança» surge em grande relevo, ganhando agora uma dinâmica universal, estendendo-se para além dos potenciais eleitores. No verso da t-shirt prolonga-se toda a amplitude universal da «mudança» enquanto epicentro de toda a mensagem da campanha:
If one voice can change a room then it can change a city; if it can change a city then it can change a state; if it can change a state then it can change a nation; if it can change a nation then it can change the world.
Entre tanta «mudança» polvilhando toda a campanha de Obama fica a questão: o que mudará efectivamente? Especulando-se, a mudança mais premente e imediata será o estilo da presidência. Barak Obama é objectivamente diferente de George W. Bush. O americano matarruano do Texas será substituído por um americano mais polido e confiante em si mesmo, sobretudo no domínio da comunicação com os mais diversos agentes da política, meios de comunicação incluídos. Barak Obama demonstra ter uma capacidade invejável (senão inédita no nosso tempo) para dominar os vários níveis da comunicação e da imagem no plano político, sendo até agora esse o seu grande trunfo nesta longa caminhada rumo à Casa Branca.
Efectivamente, toda esta epígrafe de «mudança» veiculada pelos estrategas de campanha de Obama surge até agora envolvida numa espécie de limbo ideológico ou, para não ir tão longe no uso de um conceito que comporta muito mais que palavras, num limbo de ideias. O que esta campanha para a presidência dos EUA demonstra é que aquilo que está em jogo vai para além de uma definição axiomática e articulada de ideias que conduzirão a policies. A imagem veiculada e a carga simbólica da mensagem, por mais abstracta que seja, é mais eficaz na prossecução do objectivo (vencer uma eleição) que a clareza e transparência das ideias.
Não deixa de ser interessante que a «mudança» anunciada na campanha se torne num paradigma que ultrapassa a barreira física (e, porque não, eleitoral) das fronteiras norte-americanas, estejam elas onde estiverem e venha apelar ao desígnio histórico do papel dos EUA no mundo. Perante uma crise financeira global com epicentro nos EUA, a efectivação da mensagem na sua imanente abstracção visa ser tão extensível no plano interno como externo.
Será pois, à sombra desta propagandeada «mudança» messiânica que, provavelmente, Barak Obama vencerá as eleições de 4 de Novembro, pois é ele, o único a reunir as condições necessárias para alterar a face do “imperialismo” americano que Bush colocou no estádio da decadência. A história que Obama se arrisca a fazer não passa somente por ser o primeiro mestiço a liderar o país mais poderoso do mundo. Aquilo que a história poderá vir a contar é que Obama foi o presidente norte-americano que inverteu o destino fatal do modelo capitalista que os EUA lideraram no mundo nas últimas duas a três décadas.

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