

Após a visita, complementada com um arrebatador documentário que incluía uma das últimas entrevistas a Alberto Korda, cheguei à fala com Diana Díaz. Apesar de ela não entender o meu português por mais que tentasse entrecortar as palavras, e de não me sentir disposto a expor o meu medíocre castelhano, um tradutor acabou por levar-lhe as minhas poucas perguntas e fazer a ponte para que conseguíssemos dialogar.
Incidi as questões fulcrais da entrevista baseando-me nas minhas próprias dúvidas enquanto estudioso ad-hoc do tema que domino com alguma coerência, sublinhando a relação de amizade que ligava o fotógrafo a Fidel Castro até 1968. Eram amigos íntimos, amigos de sempre, homens ligados na amizade que se reconheciam mutuamente pela inteligência e pelos ideais humanistas que os uniam. Diana falou-me de tudo isso, da relação intensa entre o líder político e o fotógrafo durante aqueles anos fulgurantes da Revolução Cubana.

Depois, cada um seguiu o seu rumo, como se houvesse um destino que ditasse papéis distintos, inconciliáveis para que o percurso de um e de outro se mantivesse simétrico. Mas, garantiu-me Diana, permaneceram sempre ligados por um forte sentimento de amizade e respeito, que só se rompeu em 2001, com a morte de Alberto Korda, em Paris.
Quando se pesquisa e lê o que se escreveu e disse sobre Korda, sente-se que esta separação nunca está bem explicada. Referi essa inquietação a Diana, temendo que estivesse a entrar por um caminho delicado. Abordei a dúvida invocando o ano de 1968, quando o Estado Cubano, através da “Ofensiva Revolucionária”, tomou todos os pequenos negócios privados em Cuba, incluindo o Studio Korda e consequentemente todo o espólio fotográfico aí reunido.
Apelando ao maior rigor possível na transmissão das suas palavras quanto ao que me iria contar, Diana falou-me do quanto esse excesso revolucionário (as palavras são minhas) magoara o seu pai. Mas Korda manteve-se sempre fiel à revolução, mesmo que a dinâmica política e social caminhasse para uma institucionalização crescente. Ao que me contou, o país institucionalizou-se, a

Nas palavras de Diana, Korda teve três grandes paixões na vida, as mulheres, a Revolução (e consequentemente Fidel) e o fundo do mar. Era então tempo de se virar para aquela que a sua objectiva ainda não tivera a hipótese de explorar: o mar. Durante mais de dez anos fez, em Havana, fotografia subaquática; um refúgio e uma vontade.
Como sempre, quando se fala sobre o passado, a minha entrevistada terá deixado muito para contar. Não é objectivo do meio para onde escrevo fazer artigos ou entrevistas de fundo. Porém, no essencial, a virtude daqueles minutos foi trazer mais alguma luz sobre a relação entre dois homens absolutamente fascinantes, ligados pela admiração e amizade

Concluí a entrevista, apertei a mão a Diana e retirei-me. Durante alguns segundos, quase à saída do espaço expositivo, detive-me a observar uma foto de Korda com Fidel, captada por um fotógrafo não identificado. Ocorreu-me que acabara de estar com a filha de um homem que conheceu e privou com lendas do nosso tempo, Fidel Castro e Ernesto “Che” Guevara. Foi como se por resquícios de tempo e espirais de espaço incerto tivesse eu também privado com eles. Hasta siempre!
fotos: Alberto Korda
Entrevista disponível em Lisboa Cultural, nº 142
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