
Mas nem só de grandes personagens se compreende o cinema de Coppola. Este ítalo-americano de Detroit que fez um punhado de obras-primas ao longo da sua carreira, custeando em prol da arte suprema a sua própria sanidade e a sua sustentação financeira, e que hoje promove os seus filmes mais ou menos experimentais a custas da vinicultura produzida nuns largos hectares californianos, produziu cenas arrebatadoras que assaltam forçosamente o nosso imaginário cinéfilo. Daquela história de amor maior que a vida, numa Las Vegas imaginada em decors de néon, de “One From the Heart” à abertura operática de uma selva a eclipsar-se sob um bombardeamento ao som de “The End”, dos Doors ,nessa demência permanente que foi, e é, “Apocalypse Now”, ou ao desespero silencioso de Michael Corleone a amparar a filha assassinada na escadaria da Ópera de Palermo, em “O Padrinho III”. Três singelos exemplos de arte maior que, como uma dádiva suprema, Coppola registou para a posteridade.
Fez-me bem falar hoje sobre Coppola. Deu-me vontade de agarrar nuns quantos dvds que espreitam das prateleiras lá de casa e dedicar-me a rever muito deste grande cinema. Ainda mais porque, em Coppola, como nos grandes mestres italianos ou em alguns contemporâneos de excepção como Scorsese ou Lynch, se encontram sempre motivos superiores para justificar a mais atenta das revisões. E, enquanto o tempo não me permite uma saltada obrigatória ao King para espreitar este “Tetro”, arrisco a respirar alguns dos filmes da minha vida, como o já citado “Apocalypse Now” (a versão “redux” potencia ainda mais a experiência) ou esse musical único e, ainda hoje, surpreendente que é “One From the Heart”.
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